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7 Prisioneiros (filme)
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7 Prisioneiros

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

O diretor Alexandre Moratto e o ator Christian Malheiros causaram impacto com o longa de estreia dos dois, Sócrates (2018). Com um orçamento baixíssimo, a produção trazia um retrato visceral de um momento difícil na vida de um rapaz pobre e gay na Baixada Santista. A repercussão levou a 7 Prisioneiros, um filme da Netflix com mais recursos e um astro como chamariz: Rodrigo Santoro.

Além de Moratto e Malheiros, o novo filme traz de volta Thayná Mantesso como co-roteirista ao lado do diretor. E a dupla repete a intenção de levar para as telas um recorte de uma juventude brasileira que sofre diante das duras condições que enfrenta. No caso, são quatro garotos que saem do interior do país atraídos pela oportunidade de trabalharem em São Paulo. Porém, logo descobrem que se trata de uma cilada, e eles enfrentam uma situação similar à escravidão.

Mateus (Malheiros) é o mais estudado do grupo, tendo quase completado o ensino fundamental. Audacioso, mas com esperteza, evita ser agressivo com Luca (Santoro), o dono do ferro velho onde trabalham. Assim, consegue um acordo com ele para aumentar a produção em troca de liberdade. O filme mostra como o jovem Mateus se envolve nesse processo criminoso, sofrendo com o dilema de sobreviver sem poder salvar seus amigos. E, ainda, ascender na vida, mas por caminhos ilegais.

Angústia

Christian Malheiros, da série Sintonia, um dos mais talentosos novos atores brasileiros, arrasa ao transmitir toda a angústia de seu personagem. O roteiro não recorra a diálogos, narrações ou falas que expressem seus sentimentos, mas o ator deixa claro o que Mateus sente através de suas expressões. Seja diante do espelho, ou pensativo dentro do veículo de Luca, não há dúvidas que o protagonista sofre, pois deseja outra solução, que inclua os seus amigos, mas não quer perder a chance de salvar sua própria pele. A direção de Moratto contribui suprimindo o som nos momentos de reflexão.

Por outro lado, 7 Prisioneiros humaniza o oponente Luca. A princípio, um vilão clássico como Fagin, de “Oliver Twist”, essa impressão muda quando conhecemos o seu chefe, um político que o conhece desde pequeno, e o controla. E, reforçada quando conhecemos a sua família na lanchonete da mãe. Com isso, entendemos que Mateus é como Luca, pois ambos vieram de origem humilde e acabaram no crime.  

O filme explica o esquema ilegal através de imagens. Especificamente, na montagem com planos de fios de cobre que se espalham pelos postes da cidade, logo após revelar que esse é o destino dos materiais que o ferro velho vende. Ou seja, o produto de roubos – inclusive os próprios fios já instalados – está por toda parte, numa clara metáfora do crime organizado.

Menos contundente

Além disso, a trama leva para as telas o trabalho semiescravo de imigrantes de outros países, como parte da organização criminosa na qual Luca está envolvido. E, consequentemente, também Mateus. Porém, essa sequência serve apenas como denúncia, sem o devido aprofundamento da narrativa. Aliás, isso desperta a atenção para o fato de que 7 Prisioneiros não é tão contundente quanto Sócrates. Talvez a produção maior tenha restringido uma abordagem mais explícita, pois neste filme Alexandre Moratto evita cenas de alta violência, ou até abusos de todos os tipos que possam acontecer nesse cenário nefasto.

De qualquer forma, podemos enxergar no processo de envolvimento de Mateus no crime, um dilema semelhante ao de Michael Corleone em O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972). Ambos se veem, inevitavelmente, num caminho do qual não conseguem desviar, mesmo que, assim, causem dor às pessoas queridas. Os dois ficarão marcados para sempre por essa decisão, tal como a queimadura de cigarro que o amigo traído coloca no braço de Mateus.

Mesmo sendo menos visceral que seu filme inaugural, Alexandre Moratto comprova seu dom em contar histórias fortes de um Brasil que nem todos conhecem.


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