A Epidemia (The Crazies) é uma digna refilmagem de O Exército do Extermínio (The Crazies, 1973), de George A. Romero. O título nacional nos lembra da pandemia da Covid-19, mas o conceito original se relaciona a um tema antibelicista. Aliás, muito em evidência no início dos anos 1970, quando o original foi filmado, e que o aproxima da cultura da Nova Hollywood.
A trama acontece numa pequena cidade no interior dos Estados Unidos, com pouco mais de um mil habitantes. De repente, algumas pessoas começam a apresentar um comportamento esquisito. Parecem em transe, mas saem da quase paralisia para atos homicidas. Os casos aumentam, e logo surge o exército americano com medidas drásticas e violentas de contenção. Então, os protagonistas – o xerife David (Timothy Olyphant), sua esposa e médica Judy (Radha Mitchell) – e seus ajudantes, o assistente do xerife Russell (Joe Anderson) e a assistente da médica Becca (Danielle Panabaker), partem em uma desesperada fuga.
A princípio, essas pessoas em transe parecem zumbis, e talvez isso tenha motivado essa nova versão do longa de Romero, já que essas criaturas se tornaram moda em séries e filmes. Mas, diferente dos mortos-vivos, aqui temos pessoas infectadas, que são capazes ainda de usar sua inteligência. Por isso, conseguem raciocinar para executar suas mortes, como colocando fogo na casa ou amarrando Judy para atrair David.
Contaminação
Realizado muito antes da pandemia, não vemos aqui o temor da infecção como assunto importante. Simplesmente, a contaminação acontece através da água, mas pelo jeito o contato com pessoas infectadas não transmite a doença. Hoje, sentimos essa lacuna científica, mas essa questão passava longe dos realizadores em 1973 ou em 2010. O tema é mais político, pois trata de armas biológicas que seguiam rumo a algum país em guerra, mas o avião que as transportavam caiu por acidente em próprio solo americano.
Então, para evitar que a epidemia se espalhe, o governo decide dizimar toda a cidade com seus moradores. Aliás, os agentes federais como os verdadeiros vilões do filme, erguendo acampamentos com túneis e tendas de plástico transparente para evitar contaminação, parecem inspiração para o que Steven Spielberg mostraria em E.T. o Extraterrestre (E.T. the Extraterrestrial, 1982).
A direção
O diretor Breck Eisner, que estreara em longa com Sahara (2005), realiza aqui um ótimo trabalho. No entanto, começa mal, com um flash forward com explosões que não servem para aguçar o interesse pelo filme. Mas, ao longo da história, cria cenas memoráveis. Entre elas, a serra elétrica que cai chão e sai em disparada na direção de David. Ou então o ataque dentro de um carro em um lava-rápido em funcionamento, quando os personagens (junto com os espectadores) não conseguem ver os agressores do lado de fora. Além disso, injeta estranheza ao mostrar violência em contraste com a canção de ninar, e cinismo no desfecho que revela que os nossos heróis caminham em direção a outra cidade condenada, enquanto ouvimos uma música feliz abrindo os créditos finais.
Com um roteiro mais criterioso (em relação à forma de contaminação), A Epidemia ganharia um toque adicional de seriedade. E isso poderia alçar o filme para além do mero divertimento. Mas, assim mesmo, merece ser visto. E o próprio George A. Romero deve ter ficado satisfeito, pois ele assina embaixo na função de produtor executivo.
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Ficha técnica:
A Epidemia | The Crazies | 2010 | 101 min | EUA, Emirados Árabes | Direção: Breck Eisner | Roteiro: Scott Kosar, Ray Wright | Elenco: Radha Mitchell, Timothy Olyphant, Danielle Panabaker, Joe Anderson, Christie Lynn Smith, Brett Rickaby.
Distribuição: Imagem Filmes.
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