“A Escolha de Sofia” é um dos melhores dramas do especialista no gênero, o diretor Alan J. Pakula, cujo currículo inclui “Klute, O Passado Condena” (1971), “A Trama” (1974) e “Todos os Homens do Presidente” (1976). Além disso, o filme permitiu que Meryl Streep ganhasse seu primeiro Oscar de melhor atriz em papel principal. Antes, ela tinha recebido um por atriz coadjuvante. Assim, consolidava sua reputação como uma das mais respeitadas profissionais da atuação.
A trama
A estória é narrada sob o ponto de vista de Stingo (Peter MacNicol). Esse jovem aspirante a escritor se muda para Nova York, onde faz amizade com seus novos vizinhos, Sofia (Meryl Streep) e Nathan (Kevin Kline). Desde o início, Stingo nota a instabilidade de Nathan e a força que Sofia guarda atrás de sua aparente fragilidade. Por ela, aos poucos, o rapaz constrói uma paixão platônica. Enquanto o comportamento de Nathan se torna cada vez mais esquizofrênico, Sofia revela seu duro passado na Polônia e nos campos de concentração. Até, finalmente, relatar o trágico evento que dá o título ao filme.
A estrutura do roteiro entrega a conta-gotas a vida de Sofia, inserindo flashbacks entrecortados com os acontecimentos do presente. Esse formato se encaixa no processo paulatino de descobrimento de Stingo. De fato, é tal qual ele vai desenvolvendo seu amor por ela à medida que conhece mais do passado dela.
Em analise, o triângulo amoroso que mistura amizade e paixão de “A Escolha de Sofia” se assemelha em muitas cenas àquele filmado por François Truffaut em “Jules e Jim” (1962). Por exemplo, a sequência onde os três correm felizes pelas ruas de Manhattan remete à icônica cena da ponte do filme do cineasta francês. Até mesmo a referência às comédias do cinema mudo em “Jules e Jim” possui seu paralelo em “A Escolha de Sofia”, quando os protagonistas se divertem em Coney Island, inclusive com uso de câmera acelerada. E, da mesma maneira que Jeanne Moreau se transvestiu antes de ir para as ruas, aqui os três vestem roupas inusitadas porque Nathan prega que se deve vestir assim aos domingos.
O elenco
Acima de tudo, os atores principais funcionam perfeitamente. De fato, Kevin Kline não precisa se esforçar para viver o histriônico Nathan, cuja personalidade super confiante e egocêntrica o diretor Alan J. Pakula reforça visualmente na cena em que ele brinca de maestro enquanto escuta uma sinfonia, olhando sua própria imagem refletida nas cinco janelas de seu apartamento. Além disso, sempre que possível, enquadra os três destacando Nathan com altura superior ou em plano mais próximo que os demais.
Em contraponto à presença altiva de Kline, Peter MacNicol foi escolhido. Na verdade, o ator nem era tão jovem, contava com 28 anos na época, mas sua aparência juvenil e o fato de ser este ser apenas seu segundo filme contribuíram para que ele naturalmente encarnasse o inexperiente Stingo. Dessa forma, sua figura acanhada contribui para a química que o roteiro pede para o trio protagonista, porém pode ter prejudicado sua carreira. Apesar de ainda ativo, sua carreira se destaca apenas por esta composição e pelo nerd John Cage na série cômica “Ally McBeal” (1997-2002).
Meryl Streep
E Meryl Streep, de fato, impressiona. Sua Sofia transpira fragilidade, e isso não resulta apenas da maquiagem pálida que usa, mas muito mais pelo olhar, pelos gestos e pela voz fraca, incrementada pelo sotaque polonês, revelando uma qualidade que a tornaria conhecida como mestre neste recurso. Em certas cenas, ainda fala alemão convincentemente. Confira, inclusive, como ela apresenta aparência saudável antes do grande trauma de sua vida -a escolha do título – e após, quando exibe semblante cadavérico. Aliás, a cena em que ela precisa fazer a escolha traumatizante é uma das mais agonizantes do cinema, e o grito sem som de Meryl Streep desarma o coração de qualquer espectador.
“A Escolha de Sofia”, por isso, pode ser listado como um dos melhores dramas do cinema, daqueles que emocionam e pedem uma revisão.
Ficha técnica:
A Escolha de Sofia (Sophie’s Choice, 1982) Reino Unido/EUA, 150 min. Dir: Alan J. Pakula. Rot: William Styron, Alan J. Pakula. Elenco: Meryl Streep, Kevin Kline, Peter MacNicol, Rita Karin, Stephen D. Newman, Greta Turken, Josh Mostel, Marcell Rosenblatt, Moishe Rosenfeld, Robin Bartlett, Eugene Lipinski, John Rothman, Joseph Leon, Nina Polan, Josef Sommer.