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A Fogueira das Vaidades (filme)
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A Fogueira das Vaidades

Avaliação:
5.5/10

5.5/10

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Crítica | Ficha técnica

A Fogueira das Vaidades (The Bonfire of the Vanities) figura entre os poucos filmes fracos do genial diretor Brian De Palma. Ele não conseguiu levar para as telas o humor sarcástico do livro best seller de Tom Wolfe, que traz uma visão cínica sobre a New York dos anos 1980. Na verdade, De Palma nunca se deu bem na comédia. De fato, seus Terapia de Doidos (Home Movies, 1979) e Quem Tudo Quer, Tudo Perde (Wise Guys, 1986) também são filmes fracos nesse gênero.

A escolha de Tom Hanks para um dos papéis principais de A Fogueira das Vaidades não ajuda. Apesar de ótimo ator, ele não funciona nessa chave do sarcasmo. E isso contribui para uma construção indefinida do personagem Sherman McCoy, um novo milionário de Wall Street. A riqueza consumiu sua alma, e esse é o tema principal dessa história. Tudo em sua vida é futilidade. O filme critica o seu trabalho, como um atravessador que não cria nada, mas ganha enormes comissões quando fecha uma venda no mercado financeiro. Na sua vida pessoal, ele é casado com uma esposa interesseira, Judy (Kim Cattrall), e Sherman possui como amante Maria Ruskin (Melanie Griffith), uma sulista racista casada com um velho milionário.

Pegando o caminho errado

A trama começa quando Sherman, com Maria no carro, pega um caminho errado e acaba no Bronx, na época um bairro exclusivo de negros e que estava decadente. Quando Sherman desce do carro em um atalho para tirar um pneu que obstruía a passagem, dois homens negros se aproximam e Maria se apavora. Pega o volante e acelera para Sherman entrar no carro. O filme não evidencia se ela atropelou algum dos rapazes, mas dali a dias a polícia procura Sherman por causa da placa do veículo e ele sem querer se entrega.

Quem conta a história, em narração em off, é Peter Fallow (Bruce Willis, este sim perfeito para o papel). Logo na primeira cena, conhecemos esse escritor fracassado, que ganha fama e riqueza após publicar um livro sobre o que aconteceu com Sherman McCoy. A apresentação de Peter acontece num flash forward, num longo e intrincado plano-sequência que lembra aquele de Os Bons Companheiros (The Goodfellas, 1990), que também traz o personagem entrando pela cozinha e corredores, num caminho no qual poucos podem acessar. Difícil dizer se De Palma copiou Martin Scorsese ou o inverso, pois os dois filmes saíram em 1990. É mais provável que foi uma baita coincidência que resultou em dois momentos memoráveis de bom cinema.

Ninguém presta

Nessa cena, vemos Peter depois do sucesso. Mas ele só confirma a máxima de que o sucesso consome a alma. Num evento em sua homenagem, o escritor chega bêbado, com pessoas o paparicando e ele assediando as mulheres que aparecem à sua frente. No sarcasmo de Tom Wolfe, ninguém é inocente.

Embora Sherman McCoy seja cúmplice do atropelamento, quem realmente dirigia o veículo era a sua amante Maria. Mas isso não anula o fato de Sherman ser uma pessoa desprezível, embora vítima de uma acusação falsa. Ainda mais falsa porque o reverendo negro que alega defender sua comunidade é capaz de inventar fatos para ganhar dinheiro. E é o que ele faz. Enfim, ninguém se salva, nem mesmo o advogado que Sherman contrata, ligado a um candidato à prefeitura, nem a mãe da vítima do suposto atropelamento, nem o ético pai de Sherman (que aceita que o filho minta se for para escapar da prisão). A única exceção é o juiz vivido por Morgan Freeman, cujo discurso no fim do julgamento se destaca como o melhor momento narrativo do filme.

Um gênio não versátil

Brian De Palma atesta com esse longa que versatilidade não é seu forte. Um novo mestre do suspense, o diretor conseguiu realizar estender sua genialidade até os filmes de guerra – Pecados de Guerra (Casualties of War, 1989) e Guerra Sem Cortes (Redacted, 2007). Mas na comédia não funciona, e sintomaticamente, A Fogueira das Vaidades foi sua última incursão nesse gênero.

Ainda assim, a genialidade de De Palma ainda sobrevive nesse filme. Além do citado plano-sequência, temos outros ótimos momentos. Já nos créditos de abertura, temos uma estátua de uma águia (símbolo dos Estados Unidos) olhando para a paisagem urbana novaiorquina. É uma bela metáfora do tema do filme, do idealismo americano sob escrutínio. Na cena, ainda vemos no fundo as torres gêmeas do World Trade Center. Um pouco depois, a narração apresenta Sherman McCoy com a câmera observando através da claraboia do apartamento, sob chuva, lembrando a cena semelhante de Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), obra inaugural de Orson Welles que também lançava um olhar crítico sobre o modo de vida americano dos poderosos. Por fim, destacamos ainda o uso da ópera, uma provável influência de Francis Ford Coppola, relacionando uma apresentação nos palcos com a prisão de Sherman.

Definitivamente, A Fogueira das Vaidades é uma adaptação literária que não deu certo. Mas que não deve ser desprezada, pois De Palma sempre coloca seu toque diferenciado que o coloca como um dos maiores cineastas de todos os tempos.


A Fogueira das Vaidades (filme)
A Fogueira das Vaidades (filme)
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