O tom melancólico de A Fuga de Akilla (Akilla’s Escape, 2020) prevalece nesse drama policial independente. O velho lema “o crime não compensa” ganha densidade na narrativa paralela que acompanha dois momentos na vida do protagonista Akilla. O primeiro se passa em Nova York, em 1995, logo após ele, com 15 anos, testemunhar a morte do pai, um líder de uma gangue de traficantes de drogas. O outro momento acontece em 2020, em Toronto, quando Akilla já está profundamente envolvido na indústria das drogas.
O roubo de uma carga da gangue de Akilla o coloca em contato com Sheppard, um menino que participa do roubo. Após capturá-lo, Akilla se identifica com Sheppard, e, ao invés de puni-lo, tenta ajudá-lo. Essa empatia não é expressa em palavras, mas o filme a deixa evidente através dos flashbacks de 1995. O próprio pai de Akilla o levou ao crime, e o confronto com a realidade de Sheppard provoca uma epifania. Ele não quer que o menino experimente as mesmas desgraças que ele enfrentou – uma chave que só é revelada na parte final – e, por isso, tenta alterar o caminho que Sheppar está percorrendo.
A direção de Charles Officer
O cineasta Charles Officer possui vasta experiência na direção de documentários e episódios de séries. Mas, nessa sua estreia em longa ficcional para o cinema, faz questão de privilegiar as imagens, se afastando da verbalização que predomina naqueles formatos audiovisuais nos quais ele está habituado a trabalhar. Assim, em A Fuga de Akilla, Officer aposta na comunicação da narrativa sem o uso de palavras. Por exemplo, o paralelo que Akilla enxerga de sua adolescência com a de Sheppard nunca é expressa, mas implícita nas cenas.
Aliás, o diretor vai além, e provoca interpretações metafóricas. A primeira imagem do filme após os créditos é a de um homem caindo, que ao longo da história descobrimos ser o pai de Akilla em seu derradeiro momento. Mas, também, simboliza a queda, não só do pai, mas também do protagonista, ambos como vítimas do crime. Além disso, ousa utilizar o mesmo ator, Thamela Mpumlwana, nos papeis do Akilla jovem e de Sheppar, entregando a identificação entre os dois personagens.
A trama, bem amarrada, privilegia o drama acima da ação policial. Por isso, não espere grandes tiroteios e perseguições. Afinal, A Fuga de Akilla é um filme independente, com orçamento modesto. Mas, que é suficiente para que o diretor Charles Officer conte essa história fatídica com a melancolia que planejara.
Ficha técnica:
A Fuga de Akilla | Akilla’s Escape | 2020 | Canadá, EUA | 90 min | Direção: Charles Officer | Roteiro: Wendy Motion Brathwaite | Elenco: Saul Williams, Thamela Mpumlwana, Donisha Rita Claire Prendergast, Vic Mensa, Olunike Adeliyi, Shomari Downer, Ronnie Rowe, Theresa Tova.
Distribuição: A2 Filmes.