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A Fuller Life (filme)
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A Fuller Life

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

O Santa Monica College, na grande Los Angeles, promoveu uma série de filmes do cineasta Samuel Fuller (1912-1997), entre 13 e 15 de novembro de 2015. O primeiro longa exibido foi o documentário A Fuller Life (2013), com Samantha Fuller e Christa Lang, filha e esposa de Samuel Fuller, como diretora e produtora executiva. Após a exibição, ambas comentaram sobre a vida do renomado diretor. E revelaram muitos fatos interessantes.

Segundo o filme, Samuel Fuller, assim como Sam Peckinpah, foi acusado de fazer filmes violentos. Na verdade, seus filmes contêm menos violência que “Ricardo III” de Shakespeare. Para quem foi jornalista criminal desde jovem e lutou na Segundo Guerra Mundial, Fuller não poderia fazer um retrato irreal em suas obras. Testemunha ocular de tanto horror, para contrabalançar, Fuller manteve a inocência de ser franco e direto com as pessoas, de acreditar em seus sonhos.

Por outro lado, a mão canhota de Fuller guardava um talento pouco conhecido: o de desenhar. Cartunista assim como seu irmão mais velho (Ving, que criou a personagem Betty Boop), usava esse recurso para criar storyboards para seus filmes.

Além disso, sua origem judaica levou-o a sofrer injustiças como imigrante em Nova York. Então, isso o transformou em um idealista liberal, nem da esquerda nem da direita, defensor dos desajustados, independente de sua raça, gênero, posição social. Por isso, não tinha o ego dos artistas, mas de quem busca a justiça social.

Fuller e as mulheres

Quanto a mulheres, Fuller amava sua mãe, e era feminista. E retratava mulheres fortes em seus filmes.

Casou-se aos 55 anos com a jovem atriz alemã Christa Lang, e teve sua filha única aos 63 anos. Pai zeloso, cuidava sozinho da pequena Samantha, enquanto sua esposa lecionava francês na UCLA. Com Christa como protagonista, dirigiu sua única comédia, Dead Pigeon on Beethoven Street (1974), revisitando cidades onde havia batalhado na Segunda Guerra, como Colônia e Bonn, onde conseguiu permissão para filmar na casa de Beethoven.

Já sua carreira em Hollywood começou como escritor. Dirigiu seu primeiro filme, Eu Matei Jesse James (I Shot Jesse James) em 1949, mas encontrou em Darry Zanuck, o produtor ideal com quem trabalhar. Afinal, Zanuck estava interessado na estória, e não falava sobre dinheiro. Adicionalmente, era o único magnata do cinema que era simpático aos liberais. Para Fuller, foi difícil trabalhar com outros produtores.

Dessa dificuldade, resultaram a versão final retalhada de Agonia e Glória (The Big Red One, 1980) e o arquivamento de Cão Branco (White Dog, 1982), que a Paramount considerou racista. Na verdade, o filme era anti-racista, mas com imagens duras e cruéis. Esse descontentamento fez a família Fuller se mudar para Paris, onde o diretor sempre foi idolatrado pela turma da Nouvelle Vague. Tanto que Jean-Luc Godard homenageou o filme No Umbral da China (China Gate, 1957) em seu O Demônio das Onze Horas (Pierrot Le Fou,1965), reproduzindo o figurino de Angie Dickinson na personagem de Anna Karina.

No quintal da casa

Samuel Fuller costumava trabalhar em um quarto no quintal de sua casa, onde guardava todo o material usado para pesquisas, roteiros, objetos usados em seus filmes e outras coisas pessoais. Lá, sua filha Samantha encontrou vários roteiros não filmados, livros não publicados, fotos e cem rolos de filmes de 16mm que seu pai rodou durante a Segunda Guerra. E, algumas curiosidades.

Uma marca icônica de Samuel Fuller, quando a câmera sobe lentamente pelas pernas de uma personagem feminina, foi encontrada por Samantha dentre os materiais filmados na guerra. De fato, ele filmava dessa mesma forma algumas mulheres que ele via no caminho.

Uma pasta continha um documento de divórcio, um fato que nem sua esposa conhecia. Ele ficara casado por seis semanas com Mae Scriven, na mesma época em que ela estava casada com Buster Keaton.

O documentário A Fuller Life surgiu desse material, conciliando a vontade de Samantha de homenagear os cem anos de aniversário de seu pai, já falecido. Então, é um filme pessoal, realizado com recursos provenientes de crowdfunding. Ela aparece no início, falando diretamente para a câmera, enquanto explica que todas as palavras do roteiro foram tiradas do livro autobiográfico de Fuller, “A Third Face: My Tale of Writing, Fighting, and Filmmaking”.

Atores de seus filmes e amigos leram as memórias de Fuller, entre eles: Jennifer Beals, Mark Hamill, Robert Carradine, Joe Dante, Bill Duke, James Franco, Buck Henry, William Friedkin, Tim Roth, Constance Towers. Imagens raras e inéditas, principalmente que o diretor filmou durante a guerra, enriquecem o documentário.

Estreia de Samantha Fuller

É o primeiro longa de Samantha Fuller, o que se nota em algumas sequências onde a câmera hesita sua posição, como quando Bill Duke registra uma fala emocionante quando o foco se dirigia para outro lado, e retorna então bruscamente. Se ela conseguir se firmar, terá um vasto material herdado para trabalhar, apesar de que ela diz que seu pai escrevia roteiros sem se preocupar com o dinheiro necessário para filmá-los. Sendo um fanático por história, seus roteiros versam sobre guerra civil, guerra mundial, grandes faroestes. Enfim, Samantha reconhece que há um longo caminho a percorrer até alguém investir uma boa grana em uma dessas produções com ela como diretora.


Ficha técnica:

A Fuller Life (2013) 80 min. Dir: Samantha Fuller. Rot: Samuel Fuller e Samantha Fuller. Com Samuel Fuller, Jennifer Beals, Robert Carradine, Joe Dante, Bill Duke, Clark Duke, James Franco, William Friedkin, Mark Hamill, Monte Hellman, Buck Henry, Perry Lang, Tim Roth, James Toback, Constance Towers, Kelly Ward, Wim Wenders.

Veja trecho do evento.

Leia também: crítica de “A Dama de Preto”

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