“A Grande Aposta”, o vencedor do Oscar de roteiro adaptado de 2016, guarda muitas semelhanças com “O Lobo de Wall Street” (The Wolf of Wall Street, 2013), de Martin Scorsese. A referência mais óbvia é o seu tema, o mercado financeiro nos Estados Unidos. O roteiro foi desenvolvido a partir de um livro baseado em acontecimentos reais, de autoria de Michael Lewis. Porém, as comparações vão além. Afinal, ambos os filmes possuem a mesma linguagem não convencional e ritmo alucinante. E transformam um assunto sério e complexo em um filme divertido.
A trama
Michael Burry (Christian Bale) é um investidor de sucesso que conclui através de raciocínio matemático que haverá uma crise financeira com origem no mercado imobiliário. Suas pesquisas em fundos existentes mostram que os bancos fazem empréstimos sem nenhum cuidado em analisar o crédito do tomador. Ademais, levantam o capital necessário para isso captando dinheiro de investidores que desconhecem a fragilidade desses ativos. Então, com essa crença, Michael contrata operações financeiras com vários bancos. Esses contratos estipulam que Burry pagará valores mensais aos bancos, caso essa situação de crise não venha a acontecer.
Jared Vennett (Ryan Gosling) toma conhecimento da ousadia de Burry e decide também arriscar nessa linha. O mesmo acontece com Mark Baum (Steve Carell). Logo, dois jovens investidores descobrem essa arriscada estratégia e buscam apoio do experiente especialista Ben Rickert (Brad Pitt) para também apostar na crise. Esses personagens atuam em paralelo na história, e cada um enfrentará suas próprias angústias até que a aposta se concretize.
Personagens
Apesar de Ryan Gosling se apresentar como protagonista principal, assumindo o papel de narrador e falando com o espectador olhando diretamente para a câmera, quem realmente chama a atenção é Christian Bale. Isso porque Michael Burry foge dos padrões, um “esquisitão”, como o personagem de Gosling afirma no filme. De fato, Burry vai trabalhar em sua empresa vestindo camiseta e bermuda, descalço. Além disso, é desprovido de habilidades sociais. Fica o dia inteiro trancado em seu escritório, ouvindo heavy metal em alto volume e batucando suas baquetas, enquanto planeja suas estratégias financeiras.
O proposto protagonismo de Gosling também é suplantado pelo Mark Baum de Steve Carell. Perturbado mentalmente por anos de profissão na área, Baum é uma bomba relógio sem horário previsto para explodir.
O filme não segue uma narrativa padrão. Logo de cara, Ryan Gosling explica o que acarretou a grande crise financeira, como se fosse um documentário em velocidade acelerada. Para isso, o diretor Adam McKay faz uso de fotos, reportagens e encenação. E, também, humor, afinal McKay é parceiro de Will Ferrell, dirigindo o ator em “Tudo Por Um Furo” (The Anchorman 2, 2013) e mais outros cinco longa metragens. E a comicidade é usada em doses calculadas, por isso funcionam bem e resolvem problemas como a complexidade do assunto do filme. Por exemplo, para que todos compreendam, e prestem atenção à explicação, a atriz Margot Robbie dentro de uma banheira ensina o que são “subprimes”. Robbie, por sinal, também esteve em “O Lobo de Wall Street”.
“A Grande Aposta” é inteligente e faz seus espectadores saírem das salas de cinema se sentindo inteligentes também, da mesma forma que nos tornamos charmosos e fortes após um filme do James Bond. Funciona 100%.
Ficha técnica:
A Grande Aposta (The Big Short, 2015) 130 min. Dir: Adam McKay. Rot: Charles Randolph e Adam McKay. Com Christian Bale, Steve Carell, Ryan Gosling, Brad Pitt, Marisa Tomei, Melissa Leo, John Magaro, Finn Wittrock, Margot Robbie, Rafe Spall, Hamish Linklater, Jeremy Strong, Anthony Bourdain, Rudy Eisenzopf, Casy Groves, Charlie Talbert, Hunter Burke, Shauna Rappold, Brandon Stacy, Aiden Flowers, Peter Epstein, Leslie Castay, Andrew Farrier, Vanessa Cloke, David Zalkind, Carrie Lazar, Adepero Oduye, Kate Blumberg, Billy Slaughter, Mark Greenfield, Billy Magnussen, Heighlen Boyd, Ilan Srulovic, Al Sapiena, Karen Gillan.
