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A Grande Ilusão (filme)
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A Grande Ilusão

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Ao contrário de muitos filmes de Jean Renoir, A Grande Ilusão possui um viés otimista. Dentro de um filme de guerra, ele levanta o tema da fraternidade entre as pessoas. Como tal, a união e o sacrifício pelo próximo se tornam essenciais para sobreviver nessa situação crítica.

A trama se desenrola em três segmentos.

Primeiro segmento

No primeiro, o tenente que se chama Maréchal e seu superior, o capitão De Boeldieu, se tornam prisioneiros num campo de prisioneiros exclusivo para oficiais. Este Oflag está sob comando do capitão Von Rauffenstein.

Logo, os dois franceses se integram com os demais oficiais compatriotas no campo. Assim, participam do plano de construção de um túnel de fuga. O filme mostra um ambiente tranquilo, apesar da falta de liberdade. Na verdade, as condições se tornam mais confortáveis devido aos generosos carregamentos que o prisioneiro Rosenthal recebe. Entre os itens, comida de melhor qualidade.

Rosenthal não é de família nobre como o capitão De Boeldieu. Na verdade, seus pais são banqueiros ricos que, agora, compram os castelos e mansões das antigas nobrezas. Porém, nessa situação extrema, a diferença de classes sociais ou, de classes econômicas, fica de lado. Generosamente, Rosenthal compartilha tudo o que recebe, e todos lutam juntos pela esperança da fuga.

Então, acontece uma festa com apresentação teatral dos oficiais transvestidos de mulher. Quando Maréchal descobre que a França retomou a região de Douaumont dos alemães, todos se entusiasmam. E, cantam o hino nacional francês. Com isso, os oficiais germânicos se retiram humilhados. Porém, se vingam colocando Maréchal na solitária. Esse trecho revela o momento mais duro nos campos de prisão no filme.

Então, quando Maréchal sai da solitária, descobre que todos serão transferidos para outros campos. Ou seja, o túnel de fuga, agora concluído, não serve para nada.

Segundo segmento

Na segunda parte, Maréchal e De Boeldieu chegam a um novo campo de prisioneiros, onde reencontram Rosenthal. Além dele, também Von Rauffenstein, que comanda o local.

Após sofrer graves ferimentos, o capitão alemão possui uma outra visão sobre a guerra. Por isso, se aproxima de De Boeldieu, com quem intensifica uma cumplicidade pela mútua origem nobre. Para ele, a nobreza se torna o mais essencial em sua existência. O roteiro acentua esse mundo à parte dos nobres pelo uso de alguns diálogos em inglês, idioma que só os dois capitães conheciam.

Já para o capitão francês, a crença é outra. E ele se sacrifica para que Maréchal e Rosenthal consigam fugir do campo, com a colaboração também de todos os outros prisioneiros. Portanto, se concretiza nessa sequência a abordagem otimista do ser humano, capaz de se arriscarem ou mesmo se sacrificarem pelo bem do próximo.

Terceiro segmento

Agora, a união dos dois fugitivos se torna essencial para que ambos sobrevivam às duras condições de fuga. Maréchal e Rosenthal atravessam juntos vários quilômetros montanhosos, enfrentando a neve e o frio do inverno europeu.

Além disso, um novo personagem surge para reforçar a visão otimista de A Grande Ilusão. Quando Rosenthal torce o tornozelo e não consegue prosseguir na travessia, os dois fugitivos se abrigam em um celeiro. Porém, a proprietária do local, a fazendeira alemã Elsa, os encontra.

Ao invés de denunciá-los, Elsa prefere acolhê-los até que Rosenthal possa se curar. Afinal, ela é uma jovem viúva que perdeu o marido na guerra, e prefere uma atitude pacifista.

Dessa forma, surge uma nova demonstração otimista de fraternidade no filme.

Ilusões

Apesar do tom otimista, os personagens de A Grande Ilusão enfrentam decepções, expostas durante o filme,

Em um dos diálogos, um personagem diz ao outro que a esperança de paz após a guerra é uma “grande ilusão”. De fato, alguns anos após o fim da Primeira Guerra Mundial, surgiria outra com proporções maiores. Aliás, em análise mais ampla, o mundo nunca gozou um período de paz absoluta.

Dentro do filme, o túnel de fuga, construído durante um longo tempo mediante um tremendo esforço foi uma ilusão enorme. Afinal, após ficar finalmente pronto, os alemães transferiram todos os prisioneiros.

Ademais, a ideia de ilusão também se aplica à divisão de classes, de raças e de nacionalidades. Por isso, a cumplicidade entre os dois capitães de mesma origem nobre não impediu que o francês ajudasse na fuga dos seus compatriotas. Já quanto à raça, temos o personagem de Rosenthal. Ele é judeu, mas isso não interfere na sua generosidade com os demais prisioneiros, nem na relação de irmandade com seu companheiro de fuga. Por fim, todos os prisioneiros – franceses, russos, ingleses – contribuem para que os dois prisioneiros franceses fujam.

Como resultado, A Grande Ilusão obteve ótima receptividade da crítica, e foi até indicado ao Oscar de Melhor Filme. Em grande parte, por sua indiscutível qualidade. Mas, igualmente, pelo raro otimismo dentro da obra de Jean Renoir.  


A Grande Ilusão (filme)
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