Após alcançar o sucesso internacional com filmes de lutas marciais acrobáticas como Herói (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2004), o diretor chinês Zhang Yimou realizou grandes coproduções contando com astros asiáticos e ocidentais. A primeira foi o bom Flores do Oriente (2011), protagonizado por Christian Bale. A segunda é este A Grande Muralha (2016), cujo resultado ficou aquém do esperado.
Para começo de conversa, a ideia do filme apela demais para a fantasia. Segundo a trama, a Grande Muralha da China foi construída para proteção contra os Tao Tei, seres alienígenas terríveis que comem tudo o que encontram pela frente. A cada 60 anos, acontece o ataque deles, e justamente nesse momento chegam ao local os mercenários William (Matt Damon) e Tovar (Pedro Pascal), que buscam a pólvora recém-inventada pelos chineses. E lá conhecem Ballard (Willem Dafoe), que chegou há 25 anos com o mesmo objetivo, sem conseguir executá-lo. Como William e Tovar são excelentes guerreiros, os chineses os convidam a ajudá-los na luta contra os Tao Tei em troca da liberdade deles. Cabe a eles decidirem (e provarem) se são dignos dessa confiança.
Coreografias e coloridos típicos
O toque de Zhang Yimou marca presença nas coreografias dos soldados chineses, nas ações acrobáticas na preparação para o primeiro embate contra os Tao Tei. Os figurinos coloridos, distinguindo os diversos batalhões são deslumbrantes, o que remete aos maiores sucessos do cineasta. As acrobacias retornam somente, e num breve momento, na parte final, quando a general Mae Lin (Jing Tian) combate os monstros em cima de um telhado na cidade invadida. As demais ações, ainda que bem coreografadas, não seguem essa tradicional característica do cinema chinês.
Mesmo assim, merecem destaques alguns trechos, como aquele em que William precisa provar sua destreza como arqueiro, e o faz num daqueles truques impossíveis que só acontecem no cinema, mas que são divertidos de qualquer maneira.
Monstros de vídeo game
Então, por que o filme não agrada tanto? Por um lado, por causa dos monstros. Totalmente construídos em computação gráfica (assim como a Grande Muralha da China), os seres são devidamente assustadores, mas longe de parecerem reais. Lembram criaturas de games.
Além disso, parecem extremamente letais e indestrutíveis, e em número absurdo, o que torna difícil aceitar que os humanos conseguiram derrotá-los. Quandoeles atacam, em hordas gigantescas, lembram os zumbis, que também se empilham para sobrepor muros e torres, de Guerra Mundial Z (World War Z, 2013), com a diferença de que no filme de Marc Forster o roteiro possuía uma solução mais sensata para eliminar esses inimigos. Aliás, um ímã com o poder de uma kriptonita? Não, não cola.
Por outro lado, como acreditar que dois homens valem mais do que um exército de milhares? E, pior ainda, dois ocidentais? Nesse ponto, faltou dar mais importância (e poder) para personagens chineses. Ainda que a general Mae Lin tenha participação essencial no golpe derradeiro para derrotar os alienígenas, os demais guerreiros parecem imprestáveis, mesmo os de alto escalão.
A Grande Muralha não chega a ser um desperdício total. Até serve como diversão, mas uma diversão incapaz de provocar grandes emoções.
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Ficha técnica:
A Grande Muralha | The Great Wall | 2016 | 1h43 | EUA, China, Hong Kong, Austrália, Canadá | Direção: Zhang Yimou | Roteiro: Carlo Bernard, Doug Miro, Tony Gilroy | Elenco: Matt Damon, Jing Tian, Willem Dafoe, Andy Lau, Pedro Pascal, Zhang Hanyu, Han Lu, Lenny Lin.