Duas versões em terror do conto de Cinderela foram lançadas em 2024. Este A Maldição de Cinderela (Cinderella’s Curse), de Louisa Warren, e A Vingança de Cinderela (Cinderella’s Revenge), de Andy Edwards e estrelado por Natasha Henstridge. Não é surpresa a coincidência, tendo em conta a onda dessas adaptações nos últimos anos. Por exemplo, as do Ursinho Pooh, do Grinch, da Alice no País da Maravilhas, que já chegaram por aqui.
A Maldição de Cinderela, por sinal, é dos mesmos produtores (Stuart Alson, Scott Chambers e Nicole Holland) de Ursinho Pooh: Sangue e Mel – o primeiro deles é fraquíssimo e o segundo razoável. A diretora, Louisa Warren estreou em 2018 e este já é seu 29º trabalho na função, sinal de que costumar produzir em escala industrial, quase sempre dentro do gênero B de terror. Raramente um de seus filmes tem lançamento nos cinemas brasileiros, portanto se deduz que este seu último longa seja um de seus melhores.
A história tem mais a ver com o título concorrente, pois trata da vingança de Cinderela (Kelly Rian Sanson) contra os maus-tratos da sua madrasta (Danielle Scott), e das meias-irmãs Ingrid (Lauren Budd) e Hannah (Natasha Tosini). Aliás, maus-tratos é pouco, pois como aqui o gênero é o terror, a perversidade chega a extremos. Assim, a criada, por ter torcido o pé e não poder trabalhar, é chicoteada e linchada pelas patroas, sobrando para Cinderela dar o golpe de misericórdia.
Carrie, a Cinderela
Nesta versão, nem o príncipe é encantado. Num plano maldoso com sua namorada Ingrid, ele seduz e convida Cinderela para o baile em seu castelo. Tudo não passa de uma armação, e durante uma dança o príncipe revela a armadilha. Além de desiludida, Cinderela ainda é humilhada e deixada nua na pista. Mas, ela havia feito um pacto com o sobrenatural, e se ergue (inexplicavelmente já vestida). Os planos seguintes (e alguns posteriores) são cópias escancaradas da cena do baile de Carrie, a Estranha (1976), de Brian De Palma. Cinderela vira o rosto para as portas e elas se fecham, move as coisas e provoca explosões.
A Maldição de Cinderela vai além e seres das trevas surgem e começam a matar adoidado. Cinderela persegue seus quatro detratores principais e mata-os individualmente – porém, sem nenhum toque de especial inventividade. No lugar disso, as mortes esbanjam no gore, mas evitando mostrar demais porque o orçamento não comportaria.
No entanto, o filme comete o erro de não saber qual sentimento provocar no espectador em relação à protagonista. A princípio, deveria começar na compaixão que faria o espectador ficar satisfeito com sua vingança sangrenta no final. Mas, para isso, faltou convencer que Cinderela era merecedora de executar essa retaliação. Apenas mostrar que ela se importa com a criada não é suficiente.
Elenco
A escolha do elenco tampouco ajuda. A atriz Kelly Rian Sanson, que interpreta a Cinderela, falha em passar uma impressão de moça fragilizada e suscetível a uma explosão de vingança – como consegue Sissy Spacek no citado Carrie, a Estranha.
Aliás, fica a dúvida sobre o motivo de colocar nesse papel principal uma atriz menos atraente que sua rival principal (Lauren Budd, a irmã mais velha). Se foi uma consciente quebra de paradigmas, há uma explicação razoável. Caso contrário, desvirtua sem necessidade o conto de fadas original. E, se a decisão foi para que Cinderela ficasse mais assustadora na parte final, então, a intenção estava errada desde o início. Bastava encontrar uma atriz com mais talento.
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Ficha técnica:
A Maldição de Cinderela | Cinderella’s Curse | 2024 | 78 min | Direção: Louisa Warren | Roteiro: Harry Boxley, Charles Perrault | Elenco: Kelly Rian Sanson, Danielle Scott, Lauren Budd, Sam Barrett, Chrissie Wunna.
Distribuição: A2 Filmes.
Trailer:
