“A Marca da Pantera” é a versão de Paul Schrader para o clássico do terror psicológico “Sangue de Pantera” (Cat People, 1942), de Jacques Tourneur. Na verdade, não é uma refilmagem, é mais uma obra baseada no original, já que o diretor norte-americano preferiu recriá-lo à sua maneira.
No entanto, o novo longa reproduz algumas cenas do filme de 1942 com certa fidelidade em “A Marca da Pantera”. Por exemplo, a desconhecida que cumprimenta Irena (Nastassja Kinski) em um restaurante falando em um idioma estrangeiro, a visita da protagonista à cela da pantera no zoológico, bem como a moça na piscina aterrorizada pela pantera.
Entretanto, o plot central recebe uma adaptação essencial. Desta vez, a misteriosa Irena não chega à civilização através do casamento, como no filme de Tourneur, e sim pelo reencontro com seu irmão Paul (Malcolm McDowell). Dessa forma, a estória resguarda a metáfora da sexualidade por trás da maldição da pantera que transforma a protagonista no animal que ataca violentamente as pessoas. Mas, agora extremada com a inserção do incesto entre irmãos.
Desejo proibido
Esse desejo proibido, ao ser reprimido, provoca os distúrbios de comportamento figurativamente representados pela mutação no animal felino extremamente perigoso. Além de modernizar a trama, essa adaptação de Paul Schrader carrega a preferência do cineasta por temas polêmicos. Vale lembrar que estamos diante do roteirista de “Taxi Driver” (1976), “Hardcore – No Mundo Do Sexo” (1979) e “A Última Tentação de Cristo” (1988).
Em “A Marca da Pantera”, a chegada da irmã desaparecida provoca em Paul o forte desejo sexual por ela. Diante da recusa da jovem, ele busca uma prostituta para satisfazê-lo, mas ele se transforma em uma pantera negra que a ataca. Capturado, o felino acaba preso em uma jaula no zoológico, para onde Irena é atraída e acaba se empregando. A bela Irena então se envolve com o zoólogo Oliver (John Heard), por quem se sente sexualmente atraída. Quando os dois vão para a cama, ela também se transforma numa pantera. Irena acredita que uma nova relação sexual com ele a curará. Contudo, ela descobrirá que o fenômeno provém da repressão ao seu próprio desejo sexual incestuoso.
A metáfora sexual se encaixa na sequência de abertura do filme, que retrata um ritual africano que conduz ao sacrifício de uma jovem, que é oferecida a uma grande pantera negra. Fotografada com cores fortes, que puxam para o vermelho, e com trilha sonora eletrônica que remete ao trabalho de John Carpenter, essa parte introdutória transmite a sensação de um sonho.
Elenco e conclusão
Malcolm McDowell, com sua aparência naturalmente perturbada, e Nastassja Kinski, lindíssima e de origem estrangeira, são perfeitos para os papéis, e constroem um tenso clima entre os dois, com muita sensualidade e nudez abundante. Paul Schrader insere algumas citações internas, tornando o filme ainda mais pessoal. Note que o livro de cabeceira de Oliver é sobre o escritor japonês Yukio Mishima, tema do seu filme de 1985. Para completar, o filme ainda conta com canções de David Bowie.
Além disso, “A Marca da Pantera” ainda mostra o uso da quarta parede no cinema de um ponto de vista original. Ou seja, a de um animal, no caso, de uma pantera. Definitivamente, Schrader conseguiu dirigir seu filme como se fosse uma obra com personalidade própria, mais do que uma mera refilmagem.
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Ficha técnica:
A Marca da Pantera (Cat People, 1982) EUA. 118 min. Dir: Paul Schrader. Rot: Alam Ormsby. Elenco: Nastassja Kinski, Malcolm McDowell, John Heard, Annette O’Toole, Ruby Dee, Ed Begley Jr., Scott Paulin, Frankie Faison, Ron Diamond, Lynn Lowry, John Larroquette, Tessa Richarde, Patricia Perkins, Berry Berenson, Fausto Barajas.
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