O filme A Noite do Demônio leva para as telas a discussão entre a ciência e o sobrenatural. Nos dois polos, estão o ocultista Doutor Karswell e o psicólogo John Holden.
O americano Holden viaja até Londres para participar de uma conferência sobre parapsicologia. O plano é se juntar ao Professor Harrington para combater as ideias do Doutor Karswell, líder de um culto. Porém, descobre que o seu aliado acaba de morrer na noite anterior. Então, quem o auxilia é a sobrinha do professor, Joanna Harrington. Ele tem certeza de que seu tio morreu vitimado pelas forças ocultas de Karswell. E, ela sabe que agora Holden corre perigo.
O diretor de A Noite do Demônio é o francês Jacques Tourneur, que realizou uma trinca de produções de terror quando se juntou ao produtor Val Lewton. O primeiro deles se tornou o seu filme mais conhecido, Sangue de Pantera (1942). Em seguida, filmou A Morta-Viva (1943) e O Homem-Leopardo (1943).
Desta vez, no lugar de Val Lewton, está o produtor executivo Hal E. Chester. E foi este que, à revelia de Jacques Tourneur, inseriu as imagens do demônio na pós-produção. O diretor preferia deixar o ser por conta da imaginação do espectador. Definitivamente, seria a melhor opção, pois o monstro, uma figura de borracha mostrada em close, é o ponto fraco do filme. Tourneur estava com a razão quando preferia apresentar somente o fogo e a fumaça como a presença do demônio.
Confirmação do sobrenatural
Afinal, desde o início, A Noite do Demônio evidencia a sua intenção de confirmar a existência do sobrenatural. Por isso, introduz a estória com uma narração a respeito de bruxaria, sobre as imagens das misteriosas pedras de Stonehenge. Além disso, na morte do Professor Harrington, que acontece numa das primeiras sequências, já vemos a aparição do demônio. Portanto, o filme já define que as forças ocultas são reais.
Então, cabe ao psicólogo Holden a ingrata incumbência de desmascarar o líder ocultista Karswell. Porém, este logo o amaldiçoa e, com isso, sua vida acabará em poucos dias. Mas, mesmo diante das atividades paranormais que testemunha, Holden se mantém cético até a conclusão do filme.
Além de recorrer a pelo menos um momento de susto em A Noite do Demônio, Tourneur constrói a atmosfera de terror principalmente com a trilha sonora. A música, composta por Clifton Parker, soa muito forte e seus acordes envolvem o espectador. Um bom exemplo do seu uso está no sincronismo com a misteriosa mão que aparece num canto da tela quando o psicólogo invade a casa de Karswell.
Torcendo pelo mocinho
Como o filme não deixa dúvidas de que Karswell realmente possui poderes sobrenaturais, o interesse maior do espectador é torcer pelo mocinho da estória. Porém, o cético Holden se recusa a crer no que vê e no que aconselham as pessoas, entre elas a sobrinha do professor morto. Com isso, os riscos de morte para ele aumentam. Ao final, ele descobrirá que sua única escapatória é jogar as regras do adversário.
Essa produção da Columbia Pictures, que possui também o título original de Curse of the Demon, conta com Dana Andrews no papel de Holden. O ator atingiu seu pico de prestígio nos filmes Laura (1944) e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), mas nunca chegou ao status de estrela de primeira linha. Ao seu lado, está Peggy Cummins como Joanna Harrington. Num personagem sem muito carisma, a atriz não consegue reprisar o charme que encantou a todos em Mortalmente Perigosa (1950).
Em suma, A Noite do Demônio consegue se sustentar como um filme de terror sobrenatural acima da média. Com um tom de discussão séria, defende a existência do ocultismo, e poderia ser mais assustador se não mostrasse a figura do demônio.
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Ficha técnica:
A Noite do Demônio (Night of the Demon / Curse of the Demon) 1957. Reino Unido/EUA. 95 min. Direção: Jacques Tourneur. Roteiro: Charles Bennett, Hal E. Chester, Cy Endfield. Elenco: Dana Andrews, Peggy Cummins, Niall MacGinnis, Maurice Denham, Athene Seyler, Liam Redmond, Reginald Beckwith.