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A Palavra (filme)
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A Palavra

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Com rigor visual impecável, A Palavra é mais uma grande obra do cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer que se fundamenta na fé.

O filme adapta para o cinema a peça teatral de autoria de Kaj Munk. O centro da história é a família Borgen, encabeçada pelo viúvo Morten, que tem três filhos. O mais velho, Mikkel, é casado com Inger, com quem tem uma filha. O filho do meio é Johannes, de 27anos, que, de tanto estudar as escrituras, enlouqueceu. Por fim, há o jovem Anders, que deseja se casar com a filha do alfaiate, que é rival ideológico de Morten, por causa de diferenças religiosas. Por isso, os pais são contra esse casamento de Anders.

Enquanto Morten e o rival brigam, chega a terrível notícia de complicações na gravidez de Inger. O bebê dela morre no parto, e ela quase perde a vida também. Após o médico assegurar que ela sobreviverá, Inger morre. Johannes vai embora, contrariado porque ninguém seguiu seus apelos para terem fé na salvação de Inger. No velório, Johannes volta, aparentemente curado de sua loucura. E, pede que a criança, filha de Inger, mostre sua fé. Então, Ingers volta à vida.

Ressurreição

O espectador que desconhece o cinema de Carl Theodor Dreyer talvez se surpreenda com esse desfecho fantástico e otimista. Porém, o cineasta sempre prega a separação da matéria e da espiritualidade. Em A Palavra, essas duas forças estão representadas pelos irmãos Mikkel e Johannes. De um lado, Mikkel, marido de Inger, se apega aos valores terrenos. Por isso, diante do caixão, afirma que ama não só a alma da esposa falecida, mas também o seu corpo. Em sentido oposto, Johannes só acredita na espiritualidade, e suas falas são pregações similares às de Jesus Cristo.

Na conclusão, quem traz a fé que permite a ressurreição, é a criança. Ou seja, a única que ainda consegue crer com total pureza. Johannes, em sua aparente loucura, também possui essa pureza, mas no momento desse milagre, ele já está lúcido. Portanto, acreditamos que é a fé da filha que consegue ressuscitar a mãe, esta deitada no caixão como um anjo, com a brancura do cenário e adornos que parecem asas.

Aos descrentes, cabe ainda uma negação do milagre, pois se pode argumentar que Inger não estava de fato morta, apenas em estado de catalepsia. Porém, não parece ser essa a intenção do diretor do filme. Ademais, a ressurreição leva a outro efeito, se não milagroso, pelo menos extremamente otimista. E este é a resolução da rivalidade entre Morten e o alfaiate. Ou seja, ao fim da intolerância que impedia o casamento dos jovens apaixonados.

A direção

Notadamente, Carl Theodor Dreyer constrói em A Palavra um filme etéreo. Essa sensação resulta da predominância das cores brancas e das imagens claras. Junto a isso, um ritmo cadenciado, proveniente da montagem com longos planos e poucos close-ups. Além disso, os movimentos laterais da câmera, transitando entre os personagens, e os enquadramentos cuidadosamente planejados, justificam o rigor formal pelo qual o cineasta é conhecido.

Em A Palavra, o milagre verdadeiro existe – seja o da ressurreição ou, para os céticos, o da reconciliação. Em ambos os casos, prevalece o amor à vida.


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