A Princesa da Yakuza é uma produção brasileira que mira o público internacional. Ao mesmo tempo, mira também os espectadores locais que preferem produções estrangeiras. Por isso, boa parte dos diálogos está em inglês ou japonês, e apenas uma porção menor em português.
Essa parece uma via natural para o seu diretor, Vicente Amorim, filho do diplomata brasileiro Celso Amorim. O cineasta nasceu em Viena, na Áustria, e já morou nos Estados Unidos, na Holanda, na Inglaterra, e, claro, no Brasil. Seu segundo longa de ficção, Um Homem Bom (Good, 2008), é uma coprodução do Reino Unido e da Alemanha, e conta com elenco internacional encabeçado por Viggo Mortensen.
À parte a origem dos seus filmes, Vicente Amorim mescla em A Princesa da Yakuza outras características presentes em sua filmografia. Uma delas se refere ao universo dos imigrantes japoneses no Brasil, que ele trabalhou em Corações Sujos (2011). Outra característica é o filme de gênero, como o terror que ameaça os motoqueiros em Motorrad (2017). Além disso, Amorim volta a levar uma obra literária para o cinema, como fez com o livro de Fernando Morais.
Desta vez, Amorim adapta a graphic novel “Shiro”, de Danilo Beyruth. Mas, sem replicar o preto e branco das páginas impressas, como fizeram Frank Miller e Robert Rodriguez na maior parte de Sin City (2005). Porém, essas duas adaptações se aproximam na busca pelo visual estilizado, que Amorim persegue em cores muito fortes, com paletas que se adequam ao tom dramático de cada cena. Aliás, se você não conhece o bairro da Liberdade em São Paulo, um dos locais principais da trama, não pense que encontrará lá uma feira noturna como aparece no filme, pois é uma recriação em estúdio seguindo o que está nos quadrinhos.
As lutas na Liberdade
O filme está repleto de ação, com perseguições e muitas lutas de artes marciais, com ou sem espadas ou armas de fogo. Os embates individuais até que funcionam bem, mas os coletivos caem no erro de exagerar na redução da duração dos cortes. Esse truque resulta em maior agilidade dessas cenas, mas dificultam e, até impedem o completo entendimento do que está acontecendo. Acaba até deixando a impressão de que se trata de um subterfúgio para resolver lutas mal coreografadas.
A violência gráfica estilizada, e as lutas que se engatam uma atrás da outra sem maiores explicações fazem parte desse universo dos filmes de ação B. Não há dúvidas de que Quentin Tatantino influenciou Vicente Amorim em A Princesa da Yakuza. Prova disso são os agasalhos amarelos com listras pretas dos lutadores oponentes num dos últimos confrontos, remetendo a Kill Bill (2003/2004).
Mas a abordagem mais desleixada em relação à trama faz mais jus ao discípulo de Tarantino, o Robert Rodriguez. Afinal, o enredo não sustenta nem as justificativas para o uso dos idiomas estrangeiros, muito menos a perseguição à herdeira (?) de uma facção da máfia japonesa e as inversões de lado da protagonista Akemi (MASUMI) em relação aos seus aliados/inimigos Shiro (Jonathan Rhys Meyers) e Takeshi (Tsuyoshi Ihara).
Apesar de tudo, Vicente Amorim tem êxito em realizar uma produção brasileira com cara de filme internacional. Mas um filme B sem grande prestígio.
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Ficha técnica:
A Princesa da Yakuza | 2021 | Brasil | 111 min | Direção: Vicente Amorim | Roteiro: Kimi Lee, Fernando Toste, Vicente Amorim, Tubaldini Shelling | Elenco: Masumi, Tsuyoshi Ihara, Kenny Leu, Jonathan Rhys Meyers, Lucas Oranmian, Eijiro Ozaki, Mariko Takai, Toshiji Takeshima, Charles Paraventi, Nicolas Trevijano.
Distribuição: Warner