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A Separação (filme)
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A Separação

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

A Separação ilustra o cinema dos profundos dramas humanos urbanos do cineasta iraniano Asghar Farhadi. Nele, não há lugar para maniqueísmo e ingenuidade. Seus personagens são humanos, o que significa que eles cometem acertos e erros. Dessa forma, sua obra questiona o próprio espectador em relação à predisposição de julgar os outros.

É esse efeito que Farhadi provoca logo na primeira cena. Filmada em tomada única, com os dois atores, que representam um casal, de frente e olhando para a câmera, o diretor nos coloca na posição do juiz de família (ou cargo semelhante), com a função de julgar o pleito de divórcio movido pela esposa, Simin (Leila Hatami). Conforme ela conta, após muito trabalho, ela obteve os vistos para a família morar no exterior. Porém, o marido Nader (Payman Maadi) se recusa a ir, pois não pode abandonar o pai que está com Alzheimer e fica sob seus cuidados em casa. Os dois têm suas razões, então, o trecho já introduz o tema intrínseco do filme (e de outros do diretor): somos capazes de julgar as outras pessoas?

A trama

Mas a trama começa mesmo após essa introdução. Contrariada, Simin sai de casa e vai morar com a mãe. O marido, então, fica em casa com o pai doente e a filha adolescente do casal, Termeh (Sarina Farhadi). Como Nader trabalha fora o dia todo e Termeh vai para a escola, ele precisa contratar uma empregada para cuidar da casa e do pai. Assim, entra na história Razieh (Sareh Bayat), que acaba sendo o pivô do conflito dramático principal. No quinto dia de trabalho, Nader e Termeh retornam para casa à tarde, e encontram o pai sozinho, caído no chão com a mão atada à sua cama. Ele sobrevive, mas quando Razieh finalmente aparece na casa, Nader discute com ela e a empurra para fora de casa.

Uma bem colocada elipse não revela o que de fato aconteceu, mas Razieh, que estava grávida, perde seu bebê. Nader e Simin tentam visitá-la no hospital, mas o marido de Razieh os agride. Logo, estamos no tribunal, pois Razieh e o marido prestam queixa contra o ex-empregador e ele pode ir para a cadeia. Então, Nader também entra com uma ação contra a empregada por ela ter amarrado e abandonado o pai. O filme trabalha esses conflitos para revelar que as pessoas mentem quando precisam, mas ao mesmo tempo ninguém é cem por cento correto ou cem por cento desonesto. Não entregaremos todos os detalhes para não estragar as surpresas dessa rica trama, mas o que fica evidente é que, uma vez iniciados esses litígios, o estrago já está feito, não importa qual será o desfecho.

Predisposição para julgar os outros

A conclusão, assim, retorna ao casal principal. Sob um silêncio angustiante, cada um aguarda, separados por uma divisória de vidro, a decisão que a filha declarará ao juiz. Com quem ela decidirá ficar após o divórcio? Os créditos finais sobem e a tomada continua na tela, sem revelar a decisão final de Termeh. Dessa forma, a aflição permanecerá sem solução, evidenciando que a declaração da filha, seja qual for, não a resolverá. E, justamente, não cabe ao espectador julgar a garota pela sua escolha. É um final arrasador, que questiona com força nossa ingênua predisposição para julgar as pessoas. Como os personagens mostram, a suposição de que entendemos o que se passa na cabeça dos outros é uma simplificação ilusória.

A Separação recebeu indicação ao Oscar de melhor roteiro original e a estatueta de melhor filme em língua estrangeira. Alguns anos depois, outro filme de Farhadi, O Apartamento (2016) repetiria essa premiação.


A Separação (filme)
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