Pesquisar
Close this search box.
A Tragédia de Macbeth (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

A Tragédia de Macbeth | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

A janela de projeção em A Tragédia de Macbeth está no formato 1.37:1, ou seja, a proporção majoritária dos filmes até 1953, quando foi popularizado o cinemascope, mas tornada uma projeção bem minoritária após os anos 1960 e os diversos formatos de tela larga. O filme é todo em preto e branco, com um ritmo pouco comum no cinema americano contemporâneo. A ação é reduzida para os padrões atuais, o que joga o filme para um outro lado do espectro comercial, o dos “filmes de arte”, por pior e mais reducionista que seja a expressão (é fartamente usada para caracterização, infelizmente).

Irmãos Coen fazendo arte

Quando os irmãos Coen se metem a artistas, costumam se dar mal. Este A Tragédia de Macbeth, assinado apenas por Joel Coen, poderia se enfileirar entre os fracassos estéticos completos dos Coen, caso de filmes como O Homem que Não Estava Lá (2001), Um Homem Sério (2009) ou Ave, César! (2016).

O que seria uma pena, por alguns motivos. Em primeiro lugar, por Denzel Washington, ator extraordinário que já viveu Malcolm X no ótimo filme de Spike Lee e merecia também um Shakespeare cinematográfico para chamar de seu. Washington dirigiu o belíssimo Um Limite Entre Nós (2016), no qual interpreta um pai tirânico que deve em estatura e estrutura aos personagens tirânicos do bardo.

Em segundo lugar, porque é uma audácia e tanto pisar em terreno já muito explorado e por cineastas superiores como Orson Welles, Akira Kurosawa e Roman Polanski, para ficar só nas adaptações mais conhecidas da obra shakespeariana. O formato de tela, aliás, assim como o tratamento expressionista de algumas cenas remete ao clássico de 1948 dirigido por Welles.

Em terceiro lugar, porque os cenários estilizados permitem algumas composições fortes, explorando o claro-escuro e a geometria de maneira hábil. Em alguns momentos, parece até que estamos vendo um filme de vanguarda, ou algo derivado de O Ano Passado em Marienbad, com que Alain Resnais deflagrou a faceta mais intelectual da nouvelle vague francesa em 1961.

Destreza formal

É justamente esse terceiro ponto que salva o filme do fiasco completo. Pois adaptar a obra de Shakespeare é até covardia. Parece estratégia para ser bem-sucedido onde outrora se fracassou. Há que se passar pela trama e pelo tema e se concentrar sobretudo na forma, e em como ela é determinada pela narrativa, para identificar onde o filme falhou. A meu ver, a destreza formal acaba sendo tão onipresente e asfixiante que reveste o filme com um campo de força gelado de onde não se consegue resgatá-lo por completo.

Sua forma é superior à de O Farol (Robert Eggers, 2019), por exemplo, para ficarmos em outro filme em que o cuidado estético sufoca o desenrolar da trama. Mas não dá para comparar com o que Welles, Carl Theodor Dreyer ou Max Ophuls, admiráveis estetas que eram no fundo muito mais que isso, fizeram em seus filmes menos inspirados. Joel Coen muitas vezes mira em Dreyer e acerta em Anton Corbijn; frequentemente o filme parece um clipe do Depeche Mode, sem a música inspiradora da banda inglesa.

Coloquemos, então, este A Tragédia de Macbeth entre os filmes parcialmente falhados dos Coen. Refiro-me a obras como Queime Depois de Ler (2008) ou Inside Llewyn Davis (2013). Até pela fonte literária, mas também pelo trabalho formal e porque os outros são uma comédia e um musical cômico, A Tragédia de Macbeth é muito mais ambicioso. Por isso mesmo seus aspectos negativos chamam mais a atenção.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


A Tragédia de Macbeth (filme)
A Tragédia de Macbeth (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo