Poster de "A Verdadeira Dor"
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A Verdadeira Dor

Avaliação:
7,5/10

7,5/10

Crítica | Ficha técnica

A Verdadeira Dor é o segundo longa escrito e dirigido pelo ator Jesse Eisenberg. Difícil não comparar seu humor judeu com o de Woody Allen. O que não deve ser uma mera impressão, pois Eisenberg atuou em dois filmes de Allen: Para Roma, com Amor (2012) e Café Society (2016). Neles, provou sua capacidade de personificar o cineasta novaiorquino quando Allen coloca um ator no seu lugar dentro do filme, o que se tornou muito comum com o avançar de sua idade.

A montagem com planos de edifícios e outros lugares urbanos de Varsóvia lembra muito a abertura de Manhattan (1979). No entanto, Eisenberg foge da armadilha de deixar a sua interpretação se assemelhar a uma cópia de sua inspiração. Salvo quando corre pelas ruas ao som de uma trilha sonora instrumental, seu personagem David Kaplan apresenta muitas diferenças em relação ao Woody Allen que aparece na tela. David não tem nenhum charme, se preocupa demais com o que as pessoas pensam dele, por isso, se mantém dentro dos limites impostos pela sociedade.

David é o oposto de seu primo Benji (Kieran Culkin), uma pessoa extremamente sensível, capaz de encantar ou ofender as pessoas ao redor com suas intervenções inesperadas, oriundas de uma percepção não convencional. Ele pode ser carismático, mas muitas vezes tira as pessoas de suas zonas de conforto. É o que acontece com o guia turístico no cemitério, quando Benji pede para que ele pare de despejar informações sobre o local e permita um silêncio em respeito aos mortos. Ou, melhor ainda, quando ele se sente incomodado em viajar de trem na primeira classe sobre trilhos que já transportaram judeus para campos de concentração.

Viagem para a Polônia

David e Benji se amam como irmãos. Na trama, viajam juntos para a Polônia para conhecer o país da avó deles, uma judia que sobreviveu ao holocausto nazista. Como os dois são pessoas muito diferentes, surgem alguns atritos durante o tour que dura alguns dias. Dentro do pequeno grupo que faz esse passeio, Benji sempre chama a atenção, provocando reações positivas e negativas, mas nunca neutras – essas últimas acontecem com David.

O programa que o guia James (Will Sharpe) preparou possui um genuíno encanto por si só, mas ganha um adicional de emoção com as intervenções de Benji. Quase sempre incitando um exercício de reflexão por parte de todos. Dessa forma, a vida não passa automaticamente, como ele explica, usando outras palavras. Benji precisa de um sentido para viver, por isso está sempre incomodado.

Após Benji mostrar um comportamento dos mais desagradáveis em um jantar, David desaba, pois não aguenta mais conviver com seu primo. E confessa o que provoca tanta preocupação, fato que desperta uma outra perspectiva de todos, inclusive do espectador, em relação a Benji. Acertadamente, Jesse Eisenberg evita cair no erro de se precipitar em uma análise psicanalítica superficial.

O que seria o momento mais emocionante da viagem, a visita à casa onde a avó morou, se torna o mais indiferente. Talvez por ter sido planejado para causar impacto, acaba frustrando os dois protagonistas. Afinal de contas, não há nada mais da avó ali. Quem quebra as convenções, nessa sequência, não é Benji, mas um dos vizinhos poloneses, com sua observação pragmática.

Provocando a dor

A Verdadeira Dor provoca mais do que responde. Benji pede, no fundo, que as pessoas reflitam mais, e não apenas façam. O guia James, certamente, captou essa mensagem, como ele mesmo confessa. David, provavelmente, não. Voltará ao seu cotidiano corrido de sempre.

O título do filme brinca com a expressão em inglês “a real pain in the ass” (“um verdadeiro pé no saco”). Benji é isso, muitas vezes, por ser muito inconveniente. Mas, provoca também o significado literal do título traduzido nacional, A Verdadeira Dor, consequência do exercício de pensar. Aliás, dor que ele provoca também nele mesmo, como prova o último plano do filme, com Benji permanecendo no aeroporto, refletindo sobre o que vivenciou nesses últimos dias.

Estreia dia 30/01/2025 nos cinemas.

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Ficha técnica:

A Verdadeira Dor | A Real Pain | 2024 | 90 min. | EUA, Polônia | Direção: Jesse Eisenberg | Roteiro: Jesse Eisenberg | Elenco: Jesse Eisenberg, Kieran Culkin, Will Sharpe, Daniel Oreskes, Liza Sadovy, Kurt Egyiawan, Jennifer Grey, Ellora Torchia.

Distribuição: 20th Century Studios Brasil.

Trailer:

Onde assistir:
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