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A Viagem de Pedro (filme)
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A Viagem de Pedro

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

No ano do bicentenário da independência do Brasil, a cineasta Laís Bodanzky lança um retrato profundo da figura central responsável por esse evento histórico. A Viagem de Pedro acompanha a viagem de Dom Pedro I de volta para Portugal, após abdicar do trono de Imperador do Brasil. Dessa forma, ele pretende que sua filha mais velha seja a herdeira do trono de Portugal.

A jornada se mostra extenuante não só pelas árduas condições das viagens em caravelas, mas principalmente porque foi um momento de intensa reflexão para Dom Pedro I. O início do filme já revela seu conflito íntimo. A narração feminina em alemão de Maria Leopoldina abre a história, e retornará reiteradamente em tom questionador. Vários flashbacks entram no filme, às vezes em tom de devaneio. Trazem memórias de Pedro I desde sua infância, mal-amado pelos pais, às crises conjugais com Leopoldina e suas aventuras com as amantes. Além disso, não ficam de fora as brigas com seu irmão, que o criticava por ser “brasileiro demais”. Especificamente, pelo modo de falar ou por transar com escravas negras. Essa característica o filme mantém ainda no navio, quando aceita participar de um ritual africano para curar sua impotência.

Uma coprodução Brasil-Portugal

Laís Bondanzky mergulha de cabeça em seu primeiro filme de época. Coloca nas telas uma fotografia escura, que remete aos quadros pintados nos tempos em que a trama se desenrola. Aliás, chega a lembrar o estilismo de Vitalina Varela (2019), de Pedro Costa. O diretor de fotografia de A Viagem de Pedro é o espanhol Pedro J. Márquez, o mesmo do último longa de Bodanzky, Como Nossos Pais (2017). Márquez assina também a fotografia dos brasileiros Ex-Pajé (2018) e A Última Floresta (2021), ambos de Luiz Bolognesi. E, também, do espanhol Saura(s) (2017), documentário de Félix Viscarret, entre outros trabalhos.

Para mim, A Viagem de Pedro se aproxima do cinema português, fazendo valer a dupla nacionalidade de sua produção. Além da fotografia, o aspect ratio 1.33:1 é o mesmo de Vitalina Varela. No caso de Bodanzky, isso contribui para enfatizar a sensação claustrofóbica na caravela, sem contar o estado mental sufocante do protagonista. Mas o que me deu a primeira impressão de ver um filme português foi a solução prática (e econômica) de caracterizar os protestos do povo brasileiro contra a decisão de Dom Pedro I. Ao invés de filmar uma multidão no porto, o que consumiria muito do orçamento, simplesmente ouvimos dois ou três gritos de “traidor” e “vá embora do Brasil”.

Laís Bodanzky sai das histórias urbanas cotidianas que marcaram sua filmografia. Pega um pouco das imagens que retrataram a loucura na sua estreia Bicho de Sete Cabeças (2000), e constrói com elas as alucinações do nosso maior personagem histórico. Arrisca, e acerta.


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