Diante da proliferação de super-heróis engraçadinhos (Deadpool, Homem-Aranha, Thor etc.), Adão Negro (Black Adam) é bem-vindo. O anti-herói, arquirrival do Shazam, chega às telas como um personagem sério, que não faz piadinhas e muito menos trapalhadas. Pelo contrário, suas ações até são agressivas demais. Pena que escolheram Dwayne Johnson para interpretá-lo. Seu físico, obviamente, é adequado para viver um super-herói, mas o The Rock não é um grande ator, pelo menos não em termos de versatilidade. Até agora, não conseguiu convencer num papel sério. Aliás, o próprio diretor de Adão Negro, Jaume Collet-Serra, explorou adequadamente sua comicidade natural em Jungle Cruise (2021).
E, embora Adão Negro seja um personagem sério, o filme tenta equilibrar o tom com a presença dos quatro super-heróis da Liga da Justiça (Justice League). Mas essa turma, que faz parte do Universo Extendido da DC, deixa o filme mais fraco. Para começar, o Atom Smasher (ou Esmaga-Átomo, vivido por Noah Centineo) faz aquele tipo trapalhão que faz (quase) tudo errado. Porém, suas bobeiras não têm muita graça. Já a Ciclone (Quintessa Swindell) tenta alcançar o público juvenil com sua personalidade meiga e poderes de manipular o vento, que ganha formas coloridas. O Dr. Destino (Pierce Brosnan), se assemelha ao Dr. Estranho e abre a brecha para embates de magia com o vilão, sempre menos empolgantes do que combates corpo-a-corpo. Por fim, completa o time o Gavião Negro (Aldis Hodge), o único que não compromete o filme com sua participação e ainda provoca uma interessante rivalidade com o personagem principal.
Jaume Collet-Serra
Adão Negro conta com um diretor talentoso, Jaume Collet-Serra. Dirigiu A Órfã (Orphan, 2009), vários filmes de ação com Liam Neeson e o thriller com tubarão Águas Rasas (The Shallows, 2016). Junto com o citado Jungle Cruise, são provas de sua boa mão para esses gêneros. Nessa sua estreia em um filme de super-herói, chama a atenção a solução para mostrar a supervelocidade do protagonista (mal conseguimos vê-lo se movendo). Além disso, emprega a câmera lenta extrema nas cenas de ação, quebrando a rotina de cortes exageradamente rápidos desse tipo de produção. Em certos momentos, a imagem está quase congelada, lembrando aqueles seriados antigos que praticamente reproduziam os quadrinhos estáticos dos gibis. Por outro lado, Collet-Serra cai no erro de exagerar nos mundos fantásticos que a computação gráfica hoje permite criar, mas que não empolgam todo tipo de público de cinema.
Acima de tudo, o que prejudica Adão Negro é a decisão de não realizar um filme sombrio como seria mais natural a esse personagem-título.
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Ficha técnica:
Adão Negro | Black Adam | 2022 | EUA | 124 min | Direção: Jaume Collet-Serra | Roteiro: Adam Sztykiel, Rory Haines, Sohrab Noshirvani | Elenco: Dwayne Johnson, Sarah Shahi, Viola Davis, Pierce Brosnan, Noah Centineo, Aldis Hodge, Quintessa Swindell, Marwan Kenzari, Bodhi Sabongui.
Distribuição: Warner.