Angelina Jolie retorna ao mundo da fantasia em Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos. As referências literárias estão evidentes no título nacional.
O filme se passa nos arredores de Londres, provavelmente na segunda metade do século 19, período que coincide com a infância de J. M. Barrie, autor do livro sobre Peter Pan. O casal Jack e Rose possui três filhos: David, Peter e Alice. A rotina de brincadeiras repletas de imaginação dessas crianças logo é interrompida por uma tragédia. Além de Rose entrar em tristeza profunda, Jack recebe ameaças por uma dívida antiga.
Os inocentes Peter e Alice tentam ajudar Jack. Para isso, tentam vender um relógio do pai no submundo de Londres. Porém, os dois são ludibriados e, assim, obrigam o pai a confrontar o seu credor. Então, Alice e Peter apelam para a fantasia.
No universo da fantasia
A atriz Angelina Jolie é uma ótima escolha para esse filme. A lembrança de seu protagonismo nos sucessos Malévola (2014) e Malévola: Dona do Mal (2019) facilita a entrada do espectador no universo dos contos de fada. O papel de Jolie em Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos não é pequeno, mas é coadjuvante, porque quem conduz as ações são as duas crianças. E, tal opção também é positiva, pois deixa o público-alvo desta produção próximo de seus protagonistas.
A diretora Brenda Chapman conhece bem esse público. Afinal, ela ganhou o Oscar de Melhor Animação pela animação Valente, junto com Mark Andrews. E, antes, fez O Príncipe do Egito (1998).
Neste seu primeiro live action, Brenda Chapman introduz a fantasia aos poucos. Primeiro, compartilhando com o espectador o que a imaginação das protagonistas crianças enxerga no lugar das coisas reais. Por exemplo, um bote abandonado no rio se transforma em um navio pirata aos olhos delas.
No entanto, o público infanto-juvenil poderá se frustrar com Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos. Afinal, o filme não leva, de fato, os personagens para o mundo da fantasia. Os meninos perdidos, do livro, visitam Peter e o ajudam a combater os credores de seu pai. Mas, não vemos na tela o garoto se transportando para a Terra do Nunca.
Da mesma forma, Alice ensaia aceitar o convite da Rainha Vermelha para o País das Maravilhas. Porém, ela desiste e permanece com sua mãe. Essa ilusão simboliza a proposta que sua tia lhe faz para viver com ela.
O destino de Peter
Portanto, no caso de Peter, cabe ao espectador escolher se o menino realmente se mudou para a Terra do Nunca, ou se isso é uma metáfora para seu destino verdadeiro. Numa situação concreta, Peter pode ter-se tornado um artista, como seu pai. Mas, diferente deste, teria tido sucesso com sua arte, pois ele conseguirá ajudar financeiramente o seu pai.
Essa interpretação se alinha com a ideia de ele nunca se tornar adulto, se mantendo para sempre como uma criança. Afinal, para os conservadores, como o irmão de Jack e a irmã de Rose, um artista não assume a atitude de um adulto, pois, para eles, este pressupõe um emprego convencional.
Preconceitos
Por outro lado, o filme toca no tema do preconceito, ainda que sem aprofundar. Expressamente, a tia das crianças diz que Jack é de uma classe social inferior. Por isso, ela tenta mudar o destino de seus sobrinhos. O mais velho, David, seria encaminhado para uma conceituada escola. E, ela queria levar Alice para sua casa com fins de educá-la de acordo com suas convicções.
Há outro preconceito implícito no filme. Apesar de não ser mencionado, o fato de Jack ser negro não é um mero acaso. A discriminação racial, com certeza, é outro motivo para a irmã de Rose não o aceitar na família.
Contudo, esses importantes temas não são aprofundados, nem devidamente resolvidos.
Em suma, Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos possuiu uma bela produção e boas interpretações dos atores, inclusive dos infantis. Porém, o filme não vai até o fim nos quesitos diversão para o público infanto-juvenil e coragem de levantar a questão do preconceito.
