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Amor à Terra (filme)
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Amor à Terra

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Em Amor à Terra, Jean Renoir apresenta a grande ilusão do sonho americano.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Jean Renoir saiu da França e realizou filmes em outros países. Amor à Terra é fruto desse exílio voluntário, o segundo nos EUA.

Definitivamente, é um filme diferente da sua filmografia francesa. Para começar, a crítica social aqui possui um tom muito mais ameno. Além disso, os personagens não são multifacetados, e isso resulta num apelo direto ao público, que logo se identifica com os heróis da trama. De qualquer forma, vislumbra-se uma pitada de provocação oriunda da visão de Renoir sobre o capitalismo.

Assim, o protagonista Sam Tucker personifica a grande ilusão do sonho americano. Logo após a morte de um companheiro idoso, ele deixa o trabalho nos campos de algodão. Seguindo o conselho do falecido, Sam arrenda uma terra para cultivar sua própria safra. Nessa empreitada, leva junto sua esposa Nona, seus dois filhos pequenos e sua avó.

Como veremos, Sam trabalha exaustivamente, pois a casa está destruída e a terra um matagal. E, precisa fazer tudo sozinho, pois seu único vizinho, Devers, recusa-se a ajudá-lo. Pelo contrário, ele é o vilão da estória, que até tenta sabotar os esforços do recém-chegado.

Um filme sobre superação

No filme A Grande Ilusão (1937), também de Jean Renoir, os prisioneiros constroem, com grande sacrifício, um túnel para fuga. Porém, quando ele fica pronto, eles são transferidos para outro campo prisional. Ou seja, todo o esforço foi em vão. No entanto, os dois protagonistas continuarão a buscar a liberdade no novo campo.

Da mesma forma, Amor à Terra também traz esse tema da superação. Sam enfrenta terríveis dificuldades, entre eles, o confronto com o vizinho, a doença do filho e uma tempestade. Mesmo assim, segue em frente, com o apoio da sua esposa otimista.

Personagens

Aliás, Sam é um protagonista que facilmente conquista a empatia do espectador. Afinal, ele é íntegro, trabalhador e ama a sua família. Por isso, não se deixa seduzir pela bela filha do vizinho, nem pela prostituta na cidade. Além disso, faz tudo o que é possível para curar o seu filho doente e conseguir comida no inverno. Por fim, ele não é um covarde, e enfrenta o vizinho, quando isso se torna necessário.

Por outro lado, sob a perspectiva da narrativa, Sam é um personagem estereotipado e raso. Ou seja, muito diferente dos protagonistas dos filmes franceses de Jean Renoir. Por exemplo, em A Cadela (1931), todos possuíam seu lado bom e seu lado perverso.

De fato, o personagem mais interessante de Amor à Terra é o vilão Devers. Apesar de também ter só uma faceta, encarnando o malvado da estória, ele merece atenção como símbolo do capitalismo selvagem. Devers não se satisfaz por ter uma fazenda lucrativa, ele quer as terras vizinhas também. Além disso, quer até mesmo exclusividade no uso dos recursos naturais, como a caça e a pesca. Por isso, confronta Sam. Então, ele só concorda em ajudar o vizinho quando este consegue algo que representa o seu maior objeto de desejo. No caso, o peixe gigante do rio.   

Crítica ao capitalismo

A crítica ao capitalismo em Amor à Terra existe, mas não é tão contundente. Renoir era declaradamente de esquerda, mas nessa produção americana, ele opta por apontar o dedo nos conceitos universais da cobiça, do egoísmo, do materialismo, do que no sistema econômico.

Mesmo assim, o filme reserva alguns momentos para essa crítica. Por exemplo, o amigo de Sam o acusa de agir como um apostador de jogos de azar, porque ele ambiciona ficar rico com uma colheita extraordinária. Por isso, Sam recusa a oferta de ser um operário assalariado em uma fábrica.

Renoir que agrada a todos

Identificamos que Renoir se curva a alguns padrões comerciais do cinema norte-americano. Em especial, isso fica evidente na inclusão de um personagem como alívio cômico nessa estória dramática. Assim, esse recurso surge na figura caricata e dispensável da avó rabugenta de Sam.

Provavelmente, esse é um dos filmes de Renoir que mais agradam ao público na primeira vez que é visto. Afinal, os personagens não são complexos como em outros de seus filmes. Além disso, o seu tom está claramente definido dentro de um gênero clássico, o drama.

De qualquer forma, Amor à Terra não deixa de ser um ótimo cinema, pois a habilidade do diretor se sobressai. Desde a abertura com a narração apresentando os personagens em um álbum de fotografia, até os passeios fluídos da câmera pelos trabalhadores no campo de algodão e o uso da profundidade de campo.

Em suma, temos aqui uma estória bonita e convencional de superação, dirigida com maestria. Amor à Terra concedeu a Jean Renoir sua única indicação ao Oscar, como melhor diretor, ao lado de indicações para som e trilha musical que o filme conseguiu.

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Ficha técnica:

Amor à Terra (The Southerner) 1945. EUA. 92 min. Direção: Jean Renoir. Roteiro: Jean Renoir, Hugo Butler, William Faulkner, Nunnally Johnson. Elenco: Zachary Scott, Betty Field, J.Carrol Naish, Beulah Bondi, Percy Kilbride, Charles Kemper, Blanche Yurka, Norman Lloyd, Estelle Taylor, Paul Harvey, Noreen Nash.

Onde assistir:
Amor à Terra (filme)
Amor à Terra (filme)
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