Amor de Redenção (Redeeming Love) se baseia no best-seller cristão de Francine Rivers, que assina também, pela primeira vez, o roteiro, coescrito com o diretor D.J. Caruso. Este, por sua vez, não é um especialista em filmes religiosos; por exemplo, seu último é xXx: Reativado (2017), uma aventura cômica estrelada por Vin Diesel. Isso se torna uma vantagem em relação às produções do gênero, que muitas vezes se aproximam de um sermão em formato de longa-metragem.
Mas, o filme não se afasta de sua origem literária, uma versão livre da história do profeta Oseias e sua esposa infiel Gomer, presente no Velho Testamento. A escritora Rivers transporta esse relato para o Velho Oeste americano, especificamente na Califórnia na segunda metade do século 19. Nessa terra selvagem, o fazendeiro Michael Hosea (Tom Lewis, da série Gentleman Jack) se apaixona à primeira vista pela prostituta Angel (Abigail Cowen, da série Fate: A Saga Winx). Após muita insistência, ele a convence a morar com ele em sua fazenda, e ser sua esposa. Porém, Angel não acredita no amor, pois sua mãe foi a amante abandonada de um homem rico, e a morte dela logo levou-a, ainda criança, para a prostituição. Então, Hosea (que significa Oseias em inglês) confiará que seu amor incondicional mudará sua amada.
Despertando o amor incondicional
Embora Amor de Redenção trate de prostituição, aliciamento de menores e apresente cenas de sexo, o registro se mantém sempre sutil. Assim, não há nudez nem nada perto do explícito. Afinal, a intenção é replicar a mensagem de amor do livro, e até inserir um pouco de doutrinação religiosa. O aspecto religioso se torna evidente quando o protagonista Hosea conversa com Deus, pois seus atos seguem a vontade divina. Não são muitos esses momentos, mas representam um divisor para ganhar ou perder espectadores, dependendo das crenças de cada um. Fora isso, o viés cristão no filme não é tão incômodo para quem não segue a religião, e até a conclusão, que poderia explorar o milagre da concepção, evita ser apelativo ao deixar implícito apenas nas imagens.
De qualquer forma, o longa pretende confirmar convicções e despertar a religiosidade e o amor incondicional. Por isso, não peça por autenticidade. Aqui, impera o artificial, já a partir das locações na África do Sul, cujas paisagens não se parecem nem um pouco com as da Califórnia. Aliás, o cenário, o natural e a reconstituição de época, parece belo e limpo demais. Os fazendeiros, os moradores da pequena cidade do deserto, as prostitutas, enfim, todos estão bem vestidos e imaculados, sem nenhum marca do ambiente empoeirado em que vivem. Ademais, os atores são lindos, a fotografia clara, o que afasta ainda mais do retrato daquela realidade. Sem contar, ainda, que o protagonista é o suprassumo da bondade, incapaz de qualquer ato que o desabone – e ninguém é assim na vida real.
Destaques e conclusão
Por outro lado, destaca-se a sequência do sonho em que Angel se vê mergulhando no lago e resgatando o crucifixo que pertencera à sua mãe. Em trecho anterior, ela ainda menina jogou nas águas esse objeto religioso porque Deus não salvou sua mãe enferma. Assim, esse sonho representa o resgate de sua fé. Outra solução inteligente foi o modo como essa protagonista se livra do vilão que a atormenta por toda a vida. Ao invés de agredi-lo fisicamente, que seria pouco verossímil diante da disparidade de suas forças, ela usa sua astúcia para revelar em cima do palco que esse homem é um pedófilo, causando revolta de todos os presentes.
Por fim, concluímos que Amor de Redenção é uma versão romantizada e americanizada (virou faroeste) de uma história bíblica que pode alcançar espectadores não-cristãos, pois não é uma doutrinação explícita. Acima de tudo, fica sua mensagem não só religiosa, mas também social. Inclusive, o filme está ligado à organização redeeminglovesanctuary.org, destinada a ajudar sobreviventes do tráfico e do abuso sexual. A presidente dessa fundação é Holly Caruso, esposa do diretor D.J. Caruso, e Francine Rivers faz parte de seu conselho de curadores.
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Ficha técnica:
Amor de Redenção | Redeeming Love | 2022 | EUA | 2h14min | Direção: D.J. Caruso | Roteiro: Francine Rivers, D.J. Caruso | Elenco: Abigail Cowen, Tom Lewis, Eric Dane, Famke Janssen, Logan Marshall-Green, Nina Dobrev, Livi Birch.
Distribuição: Cinecolor.