Um futuro sem anônimos no filme Anon.
O filme Anon retrata um futuro onde tudo o que cada pessoa vê fica registrado como dados em um servidor. Há pouca privacidade, porque dados como nome, profissão, idade e outros cadastrais ficam visíveis assim que uma pessoa olha para outra, nas ruas ou em qualquer lugar. Essa premissa intrigante nasceu da mente criativa de seu diretor e roteirista, Andrew Niccol. Ele é responsável por Gattaca, uma Experiência Genética (1997), O Show de Truman: O Show da Vida (1998) e O Terminal (2004).
Em Anon, Clive Owen interpreta Sal Frieland, um investigador policial que desvenda casos, que podem ser criminosos, acessando os dados captados pelos olhos das pessoas envolvidas. Acidentalmente, ele passa nas ruas por uma moça que não possui seus dados cadastrais disponíveis, o que pode ser um erro do sistema ou um inédito ataque de um hacker. Ao pesquisar sobre ela, desconfia que ela pode ser a responsável por alterar alguns dados em recentes incidentes policiais. A fim de descobrir se ela é a responsável por esse ato criminoso, Sal fingirá interesse em apagar uma recente ação de sua vida.
Direção
Andew Niccol reproduz magnificamente na tela sua inventiva estória, com um belo trabalho em conjunto com a direção de arte de Aleksandra Marinkovich e com os cenários de Patricia Cuccia. As duas aproveitam a arquitetura de construções atuais para filmá-las como se fossem futuristas.
Por outro lado, há o pop-up com os dados cadastrais das pessoas que vemos por aí. Esse recurso gráfico funciona perfeitamente para ilustrar essa funcionalidade a que teremos acesso no futuro, segundo o filme.
Anon possui uma estória que permite um uso intenso da câmera subjetiva, para revelar o que está sendo gravado. A possibilidade de um hacker alterar ou mesmo deletar essas imagens assusta. De fato, é tão invasiva quanto os temíveis experimentos da medicina do passado que realizava lobotomias ou outras atrocidades para curar a mente de pacientes com transtornos mentais.
Questões morais
Assim, a questão moral vem à tona mesmo quando o protagonista Sal, um policial, acessa as gravações da memória pessoal de um cidadão para investigar um suposto crime. Por isso, Sal é um personagem em constante conflito interno. Afinal, ele também se culpa pela morte do próprio filho, atropelado enquanto passeava com ele. Esse conflito de Sal ganha sua metáfora visual nos planos em seu apartamento que mostram metade da tela revelando o seu quarto e a outra parte sua sala de estar.
Além disso, os atos da hacker levantam outra questão, esta tão grave quanto a possibilidade de autoridades acessarem nossos dados, o que elas já fazem hoje. Essa outra questão é que as imagens não mais servem como prova. Afinal, é possível adulterar fotos e vídeos, basta editar os seus arquivos.
Sci-fi séria
Enfim, o filme Anon segue a linha das obras de ficção científica sérias. Portanto, servem como alerta para um problema que já acontece atualmente ou que pode surgir no futuro. Tanto que o filme faz questão de exibir sua explicação para a hacker conseguir deletar ou modificar um fato que o olho humano registrou. A revelação vem da própria hacker, papel de Amanda Seyfried, aqui com os cabelos escuros.
Contudo, o filme se preocupa tanto em ser coerente cientificamente, que acaba por deixar de lado uma conclusão melhor resolvida para seus personagens.
Ficha técnica:
Anon (Anon, 2018) Alemanha/EUA/Canadá. 100 min. Dir/Rot: Andrew Niccol. Elenco: Clive Owen, Amanda Seyfried, James Tam, Jonathan Potts, Rachel Roberts, Sebastian Pigott, David Storch, Amadou Kebe, Sara Mitich, Sonya Walger, Jordan Clare Robbins, Aluson Bath, Sherry Hsu, Afiya Bennett, Morgan Allen, Colm Feore. Dist: Netflix