“Árido Movie” é um filme dirigido com muito estilo em locações no sertão de Pernambuco, em que as tramas paralelas contribuem para a proposta que deseja transmitir.
Jonas (Guilherme Weber) é um apresentador de previsão de tempo na televisão que recebe a notícia de que seu pai, que há muitos anos não vê, foi assassinado. Então, ele viaja de São Paulo, onde vive hoje, para Recife, onde encontra sua mãe (Renata Sorrah) e três amigos – Verinha (Mariana Lima), Bob (Selton Mello) e Falcão (Gustavo Falcão). Da capital de Pernambuco, pega sozinho um ônibus para a pequena cidade de seu pai, no sertão, para presenciar seu enterro.
Os amigos partem depois atrás dele, de carro, para lhe dar apoio moral, apesar de Jonas ter refutado essa ajuda. E, no caminho, Jonas conhece Soledad (Giulia Gam). Ela é uma cinegrafista que quer gravar uma entrevista com Meu Velho, um místico da região, e ambos continuam a viagem no carro dela. No destino, a vó de Jonas exige que ele fique para cuidar das propriedades do pai e que se vingue do índio que o matou.
Estilo de direção ousada
O diretor Lírio Ferreira mostra um estilo ousado neste seu segunda longa-metragem de ficção. Fugindo do básico, Ferreira utiliza vários recursos técnicos para colocar o inusitado nas imagens. No prólogo do filme, desfoca as imagens das cenas que envolvem Jonas, que são montadas em paralelo com as do assassinato do pai. Dessa forma, provoca certo suspense até que se possa conhecer o rosto deste que é o personagem principal.
O capricho no visual está estampado na cena em que os três amigos de Jonas conversam dentro do carro e vemos suas faces refletidas em cada um dos espelhos retrovisores do veículo. Câmera lenta, subjetiva, e até mesmo jump cuts (quando os amigos se perdem após visitarem a plantação de maconha e quando Jonas é confrontado pelo capanga do pai) fazem parte do repertório empregado por Lírio Ferreira para que “Árido Movie” ostente um visual caprichado.
Outros recursos
Na narrativa, Ferreira introduz uma sequência que remete aos diálogos sobre banalidades que Quentin Tarantino usa como marca registrada. Por exemplo, o papo sobre o McDonald’s em “Pulp Fiction – Tempo de Violência” (Pulp Fiction, 1994). Em “Árido Movie”, Bob relata detalhadamente qual a melhor técnica para se enrolar um baseado. Essa longa cena não é gratuita. É um dos primeiros elementos a construir a ideia de que esses três amigos são uns babacas, sempre drogados, e que mais atrapalham do que ajudam Jonas.
Aliás, é recorrente a utilização de tramas paralelas durante todo o filme. Por exemplo, enquanto os três amigos começam a viagem atrás de Jonas, este conhece Soledad. Ao mesmo tempo, a vó dele o aguarda no velório. E a índia que motivou a morte de seu pai está no bar onde trabalha para Zé Elétrico (José Dumont). É uma construção instigante, formada por camadas da estória que são conectadas em alguns pontos da trama. Então, no desenrolar da estória, algumas verdades virão à tona, fechando o ciclo narrativo.
Mas, outras permanecerão em aberto. Essas relações estão vinculadas à crença da estória, verbalizada por Zé Elétrico. Ou seja, de que não somos capazes de ver o que está bem embaixo de nosso nariz, até que alguém o mostre para nós, quando então podemos compreender o que vemos. Enfim, essa é a proposta de “Árido Movie” para o espectador, a quem cabe o desafio de tirar suas conclusões sobre o que assistiu.
Ficha técnica:
Árido Movie (Árido Movie, 2005) Brasil, 105 min. Dir: Lírio Ferreira. Rot: Lírio Ferreira, Hilton Larcerda, Eduardo Nunes, Sérgio Oliveria. Elenco: Guilherme Weber, Giulia Gam, José Dumont, Mariana Lima, Selton Mello, Gustavo Falcão, Matheus Nachtergaele, Aramis Trindade, Luiz Carlos Vasconcelos, Maria de Jesus Bacarelli, Suyane Moreira, Renata Sorrah, Paulo César Pereio, José Celso Martinez Corrêa, Magdale Alves.