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As Pequenas Margaridas (filme)
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As Pequenas Margaridas

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Segundo longa-metragem da diretora tcheca Vera Chytilová, As Pequenas Margaridas transpira o ingênuo espírito da juventude rebelde dos anos 1960. Nesse sentido, o filme explora essencialmente as gags visuais repletas de nonsense. Por exemplo, a música acompanha a ação como nos desenhos animados, no recurso conhecido como “mickeymousing”. E, tais características marcavam outras comédias da época, desde os filmes dos Beatles até as maluquices dirigidas por Frank Tashlin.

Pequenas burguesas depravadas

São duas as protagonistas de As Pequenas Margaridas: a Maria Loira e a Maria Morena. No início do filme, a dupla de amigas burguesas surge sentada em frente à tela. Cheias de maquiagem, como se fossem bonecas, as moças decidem sair de seu estado de marasmo, representado pelo ranger de seus braços quando se movimentam. De súbito, resolvem ser depravadas, num acordo selado com um tapa no rosto.

Em seguida, o filme mostra as jovens extravasando o seu lado anárquico. Basicamente, elas seduzem os homens, principalmente os mais idosos, para se aproveitarem deles. Com isso, conseguem jantar em restaurantes chiques por conta das suas vítimas. E, ainda, debocham dos telefonemas apaixonados que elas recebem dos amantes. Além disso, transitam por lugares públicos quebrando as etiquetas do bom comportamento. No episódio climático, elas invadem um salão reservado para um banquete e fazem uma festança com a comida e a bebida do local.

Rebeldia infantil

Com isso, As Pequenas Margaridas ressalta a infantilidade das garotas. Afinal, a rebeldia aparente delas se concentra na comida. Por sinal, elas usam o poder de sedução delas, mas o filme não contém cenas de sexo. Aliás, elas parecem até desdenhá-lo, na simbólica cena em que elas cortam com uma tesoura objetos fálicos como pepinos e linguiças – que, igualmente, são alimentos. Logo, a impressão que temos é que elas desprezam os homens, pois eles servem apenas como provedores de dinheiro.

A princípio, Vera Chytilová procura retratar a rebeldia das jovens mulheres como uma força rompedora de convenções sociais. Pelo menos, é o que denotam as imagens dos créditos iniciais. Nelas, vemos engrenagens que se movimentam, interrompidas por cenas de explosões em guerras. Ou seja, as engrenagens representam o funcionamento da sociedade e as bombas a atuação das protagonistas. Contudo, no filme, os atos delas não são tão contundentes.

Direção arrojada

Enfim, o que indiscutivelmente rompe com as tradições, pelo menos do cinema clássico, é o estilo arrojado da diretora. Nesse sentido, As Pequenas Margaridas quebra as expectativas ao colocar tudo em descontinuidade. Para começar, o filme vai do preto e branco para o colorido vibrante, e ainda passa por filtros de diferentes tonalidades. Já a atuação vai do teatral ao musical, sem se preocupar em evitar a caricatura. E, dessa forma, as atrizes Ivana Karbanová e Jitka Cerhová protagonizam cenas hilárias. Já a música age nas cenas como um elemento nada sutil que ajuda a construir a mise-en-scène. Além disso, em vários trechos o longa abrange o cinema experimental. Por exemplo, na cena com os trilhos de trem com aplicação de efeitos de cores, velocidade e distorção.

O ritmo é pulsante e o tom é agradavelmente engraçado, mesmo que os atos rebeldes agora pareçam ingênuos. Na verdade, só com o distanciamento do tempo é que se evidenciou o quão ilusório foi todo o movimento hippie flower power. De fato, a cena final acaba por espelhar esse futuro, sem querer. Nela, as duas meninas, fartas após a folia com o banquete, deitam-se na mesa e são atingidas pelo imenso lustre de cristais. Ou seja, esse final trágico interrompe o sonho de uma geração que queria transformar o mundo. Aliás, tal como fariam a Guerra do Vietnã, e a interrupção da Primavera de Praga, na própria Tchecoslováquia.


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