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Até Sexta Robinson (filme)
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Até Sexta, Robinson | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O que temos em Até Sexta, Robinson (À Vendredi, Robinson, 2021) é uma correspondência desconfiada e apaixonante entre dois artistas teimosos. De JLG a EG, e vice-versa.

De começo tímido, tanto o franco-suíço Jean-Luc Godard, um dos maiores rebeldes do cinema moderno, quanto o iraniano Ebrahim Golestan, de obra importante, também moderna, mas muito menor em número de filmes e reconhecimento do público, estavam temerosos, receosos de invadir o espaço do outro. O filme vai crescendo à medida em que ambos, principalmente Godard, vão se soltando para manifestar seus enigmas em forma de cartas visuais e escritas, recebidas e respondidas por Golestan sempre às sextas-feiras.

A diretora Mitra Farahani acompanha de perto Golestan, suas andanças pelo grande casarão em momentos anteriores à sua decadência física. A correspondência se dá em 2014 e 2015. Em dado momento, Golestan comenta: “esse cara é meio louco”, referindo-se a uma molecagem que Godard aprontou para lhe enviar.

No balanço, até pela obra de Godard se prestar mais a derivações e releituras, Farahani pode estar mais próxima de Golestan, mas seu filme se assemelha mais a um estudo sobre a obra de Godard, principalmente as célebres Histoire(s) du Cinéma (1988-1998). Estão em seu filme os textos, as fusões, o respeito à história do cinema. Até mesmo o ruído da ave de Rolle, onde mora o diretor da nouvelle vague se apresenta ocasionalmente.

Há ainda uma ironia tipicamente godardiana, mais sutil e brincalhona, permeando todo o filme, enquanto de Golestan ouvimos algumas observações. O mestre iraniano, produtor do antológico curta A Casa é Escura (1963), da diretora Forough Farrokhzad, funciona como um comentarista das trocas, enquanto o estilo de Godard é o dominante. Incrível ver Godard em sua intimidade, descabelado ou descendo as escadas com roupa de ficar em casa, largado.

Ensaio sobre a luz

Mas há uma marca da diretora: são as telas que ela coloca em posições estratégicas simulando um encontro das duas figuras no mesmo espaço. Esses são os momentos mais tocantes do filme, em que os dois mestres distantes podem conviver num mesmo plano. Estão ensaiados desde o começo, quando o casarão de Golestan é parcialmente iluminado e a diretora brinca com os recortes de luz criando imagens de incrível beleza.

Belo ensaio sobre a luz, então, de um modo não muito diferente daquele que fizeram Acácio de Almeida e Marie Carré em Objetos de Luz, outra atração da 46ª Mostra, mas também sobre as similaridades e diferenças entre dois diretores veteranos, que realizaram seus filmes em contextos bem diferentes, Até Sexta, Robinson resulta muito agradável de se ver, um filme que passa como um sopro de paixão por cinema.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


Até Sexta Robinson (filme)
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