Bagdad Café se tornou cult mundialmente. A produção é alemã, mas as filmagens aconteceram no deserto do Arizona, nos EUA, e é falado em inglês. O título original também estava nesse idioma, “Out of Rosenheim”, mas o filme ficou mesmo conhecido como “Bagdad Cafe”. E este é a melhor obra do diretor Percy Adlon, nascido em Berlin.
O filme se tornou um sucesso devido ao uso do tema universal da amizade, que nasce a partir da sincera intenção de fazer a diferença na vida de outra pessoa. Assim age Jasmim (papel de Marianne Sägebrecht, atriz de muitos filmes do diretor), que, durante uma viagem de turismo pelos EUA, briga com o marido, que a abandona na estrada no meio do deserto. Ela caminha sozinha até encontrar o Bagdad Café, onde se hospeda, para surpresa de sua proprietária, Brenda (CCH Pounder). Isso porque seu estabelecimento está decadente, com nenhum hóspede no hotel e poucos clientes no café que não tem quase nada a oferecer.
Assim como Jasmim, Brenda briga com o marido, mas é ela quem o manda embora. Outro paralelo entre elas acontece durante as respectivas DRs: as duas recolhem as latas que estão no chão, simbolizando que essas mulheres serão as responsáveis por manter a ordem nessa situação caótica da vida delas.
Influência positiva
Em Bagdad Café, o que se sobressai é a influência positiva de Jasmim sobre Brenda, começando por limpar seu próprio quarto, depois o escritório do hotel, dar carinho aos filhos dela, e por fim, fazer o café se tornar um lugar que atrai uma nova e numerosa clientela. Essa “mágica”, em parte literal, passa pela conquista da confiança, pois, a princípio, Brenda refuta qualquer interferência da estrangeira.
Um desenho dessa construção se reflete, divertidamente, na gradual evolução da intimidade entre o pintor vivido por Jack Palance e Jasmim. A cada cena, ela veste menos roupas, até chegar à nudez. Há uma progressão também na forma de tratamento de Jasmim, que inicialmente pede que a chamem de Srª Münchgstettner (um sobrenome propositalmente bem complicado de se pronunciar).
Mas Brenda também muda Jasmim. Na primeira conversa entre elas, a turista alemã imagina-se dentro de um caldeirão sendo preparada para ser comida pela afrodescendente, fantasia que ilustra seu preconceito racial. Ela reclama também do café aguado que os americanos costumam tomar, diferente do sabor mais encorpado apreciado na Europa. Então, o encontro entre as duas acaba sendo benéfico para a transformação de ambas.
A direção
O diretor Percy Adlon conquista os cinéfilos nas primeiras sequências, nas duas brigas de casais. Para retratar a situação perturbada, Adlon monta essas cenas com muitos recortes e planos inusitados, até deixando o eixo do solo inclinado. A fotografia de Bagdad Café também agradará os iniciados, pois em alguns trechos oportunos as cores adquirem tons fortes, como no crepúsculo com vermelho intenso.
Por fim, o final aberto de Bagdad Café surpreende. Quando Jasmim não responde diretamente à proposta do pintor, o espectador se vê forçado a refletir sobre a forte ligação entre as duas protagonistas, não num sentido sexual, provavelmente. A principal questão que emerge é se Brenda precisará de Jasmim para continuar a mágica ou se ela conseguirá dar seguimento ao sucesso do café por conta própria.
Enfim, Bagdad Café retrata uma inspiradora mensagem de empatia e amizade, bem como de vontade de transformar respeitando os costumes e as costuras dos outros, embalada em um alegre número musical na conclusão.
Ficha técnica:
Bagdad Café (Out of Rosenheim, 1987) Alemanha Ocidental. 95 min. Dir: Percy Adlon. Rot: Eleonore Adlon, Percy Adlon. Elenco: Marianne Sägebracht, CCH Pounder, Jack Palance, Christine Kaufmann, Monica Calhoun, Darron Flagg, George Aguilar, G. Smokey Campbell, Hans Stadlbauer, Alan S. Craig, Apesanahkwat.