Bala Perdida é uma produção francesa realizada para a Netflix que mistura os elementos centrais da franquia Velozes e Furiosos. Ou seja, carros turbinados e investigação policial.
A trama
Lino é um ladrão especialista em mecânica. Ele prepara um carro potente para invadir uma joalheria derrubando suas paredes de concreto. Mas, exagera na dose e acaba atravessando a loja, sendo capturado pela polícia. Enquanto isso, seu irmão mais novo, parceiro no roubo, consegue fugir.
Então, na prisão, Lino é recrutado pelo detetive Charas para auxiliar na mecânica dos carros policiais de perseguição. Como resultado, seu bom trabalho é recompensado com a antecipação de sua liberdade condicional. Porém, quando ele reencontra o irmão que trabalha para traficantes de drogas, Lino e Charas são atacados pelo policial corrupto Areski e sua gangue, e mortes acontecem. Lino precisa agora correr atrás do carro com uma bala perdida que pode provar sua inocência.
Influências
Contrariando a ideia comumente associada aos cineastas franceses de que eles preservam a identidade nacional em seus filmes, Bala Perdida não esconde suas influências do cinema americano. De fato, busca a adrenalina dos filmes de ação com lutas e perseguições de carros. Até mesmo utiliza música rap, cantadas em inglês, durante a sequência que Lino trabalha arduamente na preparação dos carros policiais. Ao se livrar dos dogmas que impedem a liberdade criativa, o diretor e roteirista do filme, Guillaume Pierret, entrega um filme empolgante no mesmo nível que as melhores produções americanas do gênero.
Análise
O ritmo do filme é acelerado. Logo nas duas sequências iniciais, já coloca um assalto e uma perseguição com carros em alta velocidade, enquanto introduz seus personagens principais. Um pouco mais adiante, há uma eletrizante luta de Lino contra dez policiais numa delegacia. Nessa cena, editada sem exagero de planos curtos demais (defeito que muitos filmes made in EUA atuais apresentam), podemos acompanhar os golpes sem que os cortes rápidos dificultem propositadamente o que está acontecendo. Por fim, na conclusão, há uma perseguição explosiva, muito maior que aquela do início do filme, com soluções inteligentes para a fuga de Lino.
O roteiro surpreende quando elimina um dos protagonistas na primeira metade do filme. E justamente o personagem mais carismático, que já tinha conquistado a empatia do público. Essa opção corajosa não prejudica a estória, pois Lino ganha espaço e cresce como personagem, assim como surge o vilão Areski, impiedoso e cruel como seus parceiros do crime. O diretor Pierret explora o recurso de usar o ator mais bonito como vilão e o mais feio como o herói, quebrando as expectativas. Aliás, como Oliver Stone fez em Platoon, invertendo os papéis de Tom Berenger e Willem Dafoe.
Até então diretor de séries de TV, Guillaume Pierret estreia no cinema provando que o cinema mundial pode usar referências do cinema americano sem virar uma cópia barata. Até mesmo no quesito efeitos especiais e cenas de ação arriscadas Bala Perdida é um exemplo inspirador de que não dependemos apenas dos EUA para a produção de filmes que se apoiam nesses recursos.
Ficha técnica:
Bala Perdida (Balle Perdue, 2020) França. 92 min. Dir/Rot: Guillaume Pierret. Elenco: Alban Lenoir, Nicolas Duvauchelle, Ramzy Bedia, Stéfi Celma, Rod Paradot, Sébastien Lalanne, Arthur Aspaturian, Patrick Médioni, Alexandre Philip, Pascale Arbillot, Stephen Scardicchio, Damien Leconte, Thibaut Evrard, Anne Serra, Lino Lenoir.