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Cães de Guerra (filme)
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Cães de Guerra

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

“Cães de Guerra”: Perigo crescente

O diretor Todd Phillips é aquele da trilogia “Se Beber, Não Case!” e o pôster lembra “Scarface”, de Brian De Palma. Essas informações bastam para se prever as características de “Cães de Guerra”.

Inspirado em fatos reais publicados em um artigo da revista Rolling Stone, a história conta como David Packouz (Miles Teller, de “Whiplash”), um jovem de Miami que ganhava a vida como massagista, acabou se tornando um traficante internacional de armas. O estopim dessa bombástica jornada começa quando ele reencontra um colega de escola em um enterro. Efraim Diveroli (Jonah Hill) era o carinha com quem ninguém tinha coragem de mexer, e David percebe que ele ainda mantém a mesma postura. Então, Efraim lhe propõe que trabalhem juntos, quando seu colega conta que precisa muito de dinheiro porque sua mulher está grávida.

Assim, o massagista vira traficante. E consegue alavancar o negócio, encontrando ótimas oportunidades nos leilões militares do governo dos Estados Unidos. O que começara com o intuito de aproveitar as transações que as grandes corporações desprezavam cresceu, mas com isso também os riscos se elevaram. Por isso, precisam ir até a Jordânia para transportarem eles mesmos um carregamento para o Iraque. Surge então um serviço de centena de milhões de dólares, oferecida pelo poderoso traficante Henry Girard (Bradley Cooper).

Espiral crescente de perigo

“Cães de Guerra” percorre uma espiral de perigo crescente, onde algo que era pequeno e controlável assume gradativamente proporções maiores e cada vez mais arriscadas e sem rumo. É o mesmo frenesi de “Se Beber, Não Case!”, inclusive repetindo o recurso da antecipação de fatos. Em ambos filmes, o início mostra uma cena radicalmente fora do cotidiano, absurdo como um pesadelo, e esse é o gancho que fisga a ansiedade do espectador em descobrir como se chegou naquela situação. Aqui, vemos David sequestrado e com uma arma apontada para seu rosto, implorando pela sua vida. As antecipações continuarão ao longo do filme, na forma de subtítulos que revelam uma frase que será usada durante as sequências por vir. Por isso, o espectador sempre se mantém ansioso por saber o que acontecerá na estória.

David narra o filme, falando sobre o que já aconteceu, o que poderia indicar que ele ainda está vivo. Porém, desde “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Blvd., 1950), cuja voz em off pertence a um cadáver, o frequentador de cinema sabe que essa garantia não existe. As intervenções de David surgem acompanhadas do congelamento da imagem, de forma inusitada, porque a parada acontece num fotograma qualquer, às vezes até desfocado. Ou seja, como se o David estivesse assistindo um filme e pausando para falar sobre o que está na tela.

Um pouco de comédia dramática

No início, enquanto acompanhamos as desventuras de David, “Cães de Guerra” apresenta um tom de comédia dramática. Mas, assim que surge o Diveroli de Jonah Hill, o filme assume as cores de “Se Beber, Não Case!”, com um humor mais nervoso. O ator de “O Lobo de Wall Street” quase que repete o personagem desse filme de Martin Scorsese, meio louco e muito ganancioso – e movido a drogas. Hill rouba a atenção quando está em cena, e cria uma risada que tem potencial de virar uma referência. Já Miles Teller, repetindo “Whiplash”, coloca sua boa atuação em prol de uma performance mais marcante de seu colega de elenco.

Enquanto isso, Bradley Cooper, portando visual de persona non grata nos EUA, participa num jogo de ilusão preparado por Todd Phillips. Quando ele é formalmente apresentado no filme, o espectador fica em dúvida se ele apareceu naquela cena do prólogo ao lado de Miles Teller e não foi reconhecido.

A atriz cubana Ana de Armas mostra um forte sotaque na pele da esposa de David, o que não é um grande problema pelo fato de ela viver em Miami, onde há muitos estrangeiros. Problema maior é sua interpretação, que não consegue transmitir o que sua personagem Iz sente. As sequências em que ela arruma suas coisas para partir para a casa de sua mãe, e o retorno de David em busca dela, comprovam essa inabilidade.

Ausência de lição de moral

Por outro lado, há um certo perigo no tema de “Cães de Guerra”. O sucesso do empreendimento ilegal dos jovens faz o público sentir vontade de replicar a experiência. Sim, os riscos são expostos dramaticamente, mas não foi colocada nenhuma mensagem do tipo “o crime não compensa”. Sem lições de moral, o filme mostra David se dando mal, mas não muito. Não se pode desprezar a influência do cinema. O próprio Diveroli venera o personagem Tony Montana de “Scarface”, e enfeita a parede de seu escritório com um enorme pôster do filme.

“Cães de Guerra”, involuntariamente, homenageia Gene Wilder, falecido em 29 de agosto de 2016, pois se pode brevemente ver “O Jovem Frankenstein” (Young Frankenstein, 1974) passando em uma tela num avião. Adicionalmente, há outra curiosidade: o verdadeiro David Packouz aparece como o cantor do asilo de velhos.

Enfim, a saga de David Packouz agradará aqueles que curtiram a mistura de comédia e perigo de “Se Beber, Não Case!”.


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