Enquanto assistimos a Baseado em Fatos Reais, temos a impressão de que a sua história se assemelha a outro filme. Só não sabemos se estamos diante de Perversa Paixão (1971), Mulher Solteira Procura (1992), ou Clube da Luta (1999), entre outras possibilidades.
O filme tem direção de Roman Polanski, coautor do roteiro ao lado de Olivier Assayas, o renomado diretor francês, de Acima das Nuvens (2014). Juntos, eles adaptam o livro de Delphine de Vigan para as telas. Aliás, a autora desse livro quase que se confunde com a história. Afinal, é uma metalinguagem que conta com uma protagonista com o mesmo primeiro nome seu, Delphine Dayrieux (interpretada por Emmanuelle Seigner, esposa de Polanski).
O enredo
Delphine é uma escritora abalada por cartas anônimas que atacam sua obra. Com os nervos à flor da pele, ela não consegue escrever seu próximo livro.
Então, surge na sua vida Elle (Eva Green), uma fã que também é escritora, especializada em autobiografias de celebridades que são publicadas sem o crédito de sua autoria. Mais jovem, autoconfiante e determinada, Elle organiza a vida de Delphine, que até aceita o pedido dela para passar alguns dias no antigo quarto de sua filha.
Assim, Elle assume a responsabilidade de responder os e-mails de Delphine, zelar pelo seu perfil nas redes sociais e, até se passar por ela numa palestra em uma escola. Essas tarefas são fáceis para ela, pois está acostumada a escrever as autobiografias como se fosse a própria autora.
Delphine, por seu lado, quer se aproveitar da nova amiga para construir seu novo livro com base nas experiências dela, sem que Elle perceba. Porém, a confiança entre as duas se quebra e Delphine pode estar em perigo.
Roman Polanski deixa escapar a oportunidade de um grande clímax na revelação surpresa de Baseado em Fatos Reais. A conclusão consegue surpreender, mesmo guardando semelhanças com outros filmes, e uma revisão pode comprovar que tudo se encaixa diante dessa nova perspectiva. O diretor acaba se auto referenciando, no clima e na profissão da personagem Elle, que remetem a O Escritor Fantasma, de 2010.
(Spoilers adiante)
A aparição repentina de Elle, a influência dela na vida de Delphine, a ausência na palestra, e a suspeita de envenenamento se encaixam na hipótese de ela ser na verdade a mente da própria Delphine, primeiro tentando salvar sua vida, e depois incitando-a ao suicídio.
Mesmo sem construir um final empolgante, que a trama poderia providenciar, Baseado em Fatos Reais é um filme acima da média. Prova o talento de seu diretor que agora se dedica ao gênero suspense, como fez em O Escritor Fantasma.
