Batem à Porta (Knock at the Cabin) ainda não é o grande filme que o diretor M. Night Shyamalan está devendo. Talvez desde Corpo Fechado (Unbreakable, 2000), se formos rigorosos. Mas, esse cineasta, pelo menos quando se mantém dentro do suspense ou do terror, faz obras acima da média. A Visita (The Visit, 2015) e Tempo (Old, 2021), por exemplo, possuem momentos arrepiantes.
Da mesma forma, Batem à Porta também prende o público. Mas, só porque Shyamalan é um bom diretor, pois a história (baseada no livro “O chalé no fim do mundo”, de Paul Tremblay) possui uma narrativa que estreita cada vez mais as suas possíveis conclusões. Então, o diretor precisa buscar os momentos que permitem algum suspense. Este surge na invasão da casa, na primeira morte, na fuga da menina (que o trailer do filme estraga) e na cena do banheiro. As demais mortes e o clímax final soam mais como uma constatação, pois o mistério da trama diminui conforme ela avança.
Pelo menos, Shyamalan não permite que essa história pareça absurda demais, ou exclusiva para cristãos. Afinal, a premissa trata do fim dos tempos (aliás, título nacional do filme de 2008 do diretor). Pelo menos, assim anunciam os quatro invasores que entram no chalé que Eric (Jonathan Groff), seu marido Andrew (Ben Aldridge) e a filha adotiva Wen (Kristen Cui) alugaram por temporada. E, segundo eles, essa família precisa sacrificar um dos três para evitar o apocalipse. O enredo, claro, envereda pelas hipóteses de fanatismo religioso, teoria da conspiração, lavagem cerebral e até homofobia (tema constantemente levantado por Eric e Andrew, pois eles sempre sofreram esse preconceito). Mas, as possiblidades vão se estreitando e eliminando os mistérios da trama.
Mais drama, menos terror
Por outro lado, o diretor evita que Batem à Porta descambe para o terror violento. Há violência, mas ela não é gráfica, pois o filme a deixa fora do quadro. E isso não impede que temamos pelas vidas dos três personagens feitos de reféns. O perigo é real, independente da veracidade da profecia. Afinal, se a ameaça não vem dos céus, está ali materializada nesses invasores obstinados. No entanto, essa tensão que o filme constrói sofre alguns abalos com os redundantes flashbacks que visam demonstrar o forte amor que existe entre Eric, Andrew e Wen. Mas, isso é desnecessário, pois as cenas atuais já bastam para evidenciar esse sentimento. Sem esses flashbacks, o ritmo aceleraria e o filme ganharia em eficiência.
Na verdade, como apontamos, Batem à Porta possui uma história ingrata para adaptação cinematográfica. Conforme o filme avança, a inevitabilidade da conclusão lima o suspense e o mistério. Mesmo assim, e embora os flashbacks atrapalhem, Shyamalan consegue manter um clima predominantemente tenso. Além disso, a relação com os quatro cavaleiros do apocalipse está forçada, o significado de cada um não reflete exatamente o que está na Bíblia. E a conclusão tinha dois caminhos apenas – o escolhido para o filme não é a opção mais impactante.
Por fim, vale ainda destacar a participação de Rupert Grint como Redmond, um dos invasores. O ator, que ficou famoso interpretando Ron Weasley, o amigo de Harry Potter na franquia, é o único dos três protagonistas da saga que não está conseguindo continuar sua carreira no cinema. Aqui, ele faz o papel de um malvado, quebrando as nossas expectativas. Mas, o curioso mesmo é prestar atenção em suas falas e nas dos demais personagens quando se referem a ele. Não demorará para surgir um vídeo no Youtube e nas redes sociais relacionando essas partes com a vida profissional do ator. Como, por exemplo, “Eu já vi esse cara antes, mas agora ele está mais gordo e com barba”, ou “Eu já fiz muita coisa ruim no passado.”.
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Ficha técnica:
Batem à Porta | Knock at the Cabin | 2023 | 100 min | EUA | Direção: M. Night Shyamalan | Roteiro: M. Night Shyamalan, Steve Desmond, Michael Sherman | Elenco: Dave Bautista, Jonathan Groff, Ben Aldridge, Nikki Amuka-Bird, Rupert Grint, Abby Quinn, Kristen Cui, McKenna Kerrigan.
Distribuição: Universal Pictures.
