Beekeeper – Rede de Vingança é mais uma indicação de incapacidade do diretor David Ayer de acertar o tom de um filme. Antes, falhou terrivelmente em Esquadrão Suicida (2016). E neste seu novo filme pesa a mão na violência e ainda esfrega na cara do espectador a estupidez do roteiro.
A premissa até que soa bem-intencionada. Afinal, nada mal usar o cinema para descontar a raiva que todos sentem pelos desprezíveis golpistas da internet que roubam o dinheiro das pessoas. O filme serviria como veículo para expurgar o ódio a esses seres abjetos através de um brutamontes que enche a cara deles de porrada, e ainda explode suas instalações. Mas a obra ficcional também tem limites, e esta em questão rompe essa barreira do tolerável. Não dá para torcer pelo herói quando ele tortura (e usa esse termo expressamente) sua vítima. Nem quando ele vira uma máquina de matar e aniquila até policiais que não faziam nada criminoso.
O truculento Jason Statham encarna apropriadamente o valentão Adam Clay, um ex-agente da Beekeeper, uma organização secreta cuja missão é fazer a justiça quando as leis não conseguem. Statham já provou ser ótimo em cenas de lutas, e justamente por isso Beekeeper -Rede de Vingança não naufraga retumbantemente. Pelo menos, os combates empolgam – com o senão da violência exagerada e desnecessária.
O certo e o errado
Porém, o roteiro de Kurt Wimmer derruba Statham e estraga a desforra contra os golpistas. Em relação ao protagonista, ele se empenha numa trajetória destruidora e assassina para se vingar da amiga que perdeu todo o seu dinheiro para um esquema fraudulento. O filme instiga o espectador a apoiar essa atitude, fazendo-o odiar o coordenador de uma equipe de atendimento que ensina a aplicar o golpe e ainda se regozija quando tudo dá certo. Funciona, e o público vai junto com Adam Clay invadir a filial até explodir o local. Até aí, todos torcem pelo amigo vingador, inclusive questionando o porquê de ele não dar várias porradas no tal coordenador.
Depois, o enredo começa a degringolar. Adam Clay alega que faz a justiça, que sabe separar o que é certo do que é errado. Porém, mata todo mundo que está a sua frente. Até mesmo agentes do FBI, que não estão envolvido no esquema. Além disso, entra a cena da tortura e explosões que só por milagre não matariam inocentes. O filme tenta em vão cutucar os poderosos, aqui representados pelo principal chefe dos esquemas, o fanfarrão Derek (Josh Hitcherson), filho de uma pessoa importante que só é revelada no final. Aliás, o roteiro parece não confiar na inteligência do público e precisa afirmar verbalmente o cargo da mãe de Derek, como se ninguém já tivesse entendido da primeira vez.
Músculos no lugar do cérebro
Ademais, há outras falhas nessa trama. Exagera na coincidência de a filha da vítima, a agente do FBI Verona Parker (Emmy Raver-Lampman), chegar à casa da mãe justamente no momento em que Adam Clay entra no local. E uma simples menção da mãe na conversa anterior com Clay seria suficiente para deixar isso natural. Ruim também é o colega de Verona que serve de desnecessário alívio cômico do filme, mais incomodando do que fazendo rir. E que dizer então dos personagens carnavalescos que entram no enredo? Temos, nesse sentido, a agente do Beekeeper, com seu visual punk de shopping, que sai atrás de Clay como se estivesse num filme do John Wick. E, da mesma forma, a gangue espalhafatosa que dificilmente seria a escolha de Derek para levar como guarda-costas para o fim de semana na mansão da mãe.
Imaginem como pode ter sido o pitching vitorioso de Beekeeper – Rede de Vingança: Jason Statham parte numa vingança violenta contra um golpista elitizado que roubou todo o dinheiro de sua amiga. Mas isso, ou seja lá como foi, nem de longe se materializa na tela. Só dá para gostar do filme se o assistirmos usando nossos músculos no lugar do cérebro.
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Ficha técnica:
Beekeeper – Rede de Vingança | The Beekeeper | 2024 | 105 min | Reino Unido, EUA | Direção: David Ayer | Roteiro: Kurt Wimmer | Elenco: Jason Statham, Emmy Raver-Lampman, Bobby Naderi, Josh Hutcherson, Jeremy Irons, David Witts, Michael Epp, Taylor James, Phylicia Rashad, Jemma Redgrave, Minnie Driver.
Distribuição: Diamond Films.
Assista ao trailer aqui.