Blackout é quase um filme mediano. Obviamente, isso não é um elogio, mas descreve bem a sensação que temos quando chegamos ao seu desfecho. Poderíamos dizer que é abaixo da média, mas o “quase” na afirmação ressalta que com um pouco mais de esforço poderia ser um filme razoável.
A direção de Sam Macaroni deixa uma inevitável desconfiança prévia no ar, pois seu currículo apresenta apenas três comédias obscuras. Mas, até que ele não compromete tanto ao arriscar no gênero policial em Blackout. As cenas de luta são competentemente filmadas, apostando mais na coreografia do que na montagem frenética de cortes de reduzida duração. Porém, quando entram as armas de fogo na ação, Macaroni se perde, e exagera naquelas situações em que os tiros nunca acertam os protagonistas, mesmo num corredor de hospital. Além disso, incomoda o uso frequente de câmera lenta nas cenas de ação, bem como o estranho jump cut durante um curto trecho de parkour. Por fim, ainda em relação à direção, devemos criticar a decisão de mostrar a misteriosa mulher com cabelo de uma cor no flashback e de outra na atualidade. Não precisaria disso para colocar a dúvida se é a mesma pessoa, pois o uso da silhueta já é suficiente para tal. E os cabelos diferente colocam a indesejável dúvida na revelação de que são a mesma mulher.
Roteiro enganoso
Mas a fraqueza maior do filme Blackout está no seu roteiro. A premissa já não é nada original. Um homem acorda num hospital com amnésia, e logo ele recebe visitantes suspeitos que querem saber o paradeiro de uma certa valise. Recorrendo ao clichê das produções estadunidenses, ele é um ex-militar e por isso possui habilidades de combate fenomenais. Manter toda a trama concentrada dentro de um só local, no caso o hospital, é um ponto positivo porque aumenta a tensão, porém, parece absurdo mostrar que no seu subsolo há uma fábrica clandestina de drogas, com empregadas nuas e um filhote de leão numa jaula. Ou será uma alucinação do protagonista? Isso não fica devidamente claro.
Contudo, o que mais desagrada no roteiro é o desfecho. Alfred Hitchcock ensinou que não é necessário detalhar o que é o MacGuffin, o artifício do enredo que faz os personagens se moverem. Então, não há problema em não entrar nos detalhes do que a tal valise contém. O problema é que uma personagem a encontra ao acaso, depois de toda a lambança dos bandidos e do personagem principal para descobrirem o seu paradeiro. Nesse ponto, o filme trai o espectador, um erro imperdoável. E olha que a roteirista Van B. Nguyen tem experiência no policial, pois é uma das escritoras de episódios para a longeva série Blue Bloods, estrelada por Tom Selleck.
Ken de 1,90m
No papel do protagonista John Cain está Josh Duhamel, da série O Legado de Júpiter, e o Capitão Lennox da franquia Transformers. Um ator que funciona bem em filmes de ação, pois, como um dos personagens diz, ele é um boneco Ken de 1,90m. Como ingrediente extra, Blackout traz a participação do veterano Nick Nolte.
Enfim, se não fosse pelas falhas na parte final do roteiro, Blackout poderia até ganhar uma nota mediana. Mas não dá para perdoar a decepção que o filme provoca em relação ao paradeiro do MacGuffin da trama.
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Ficha técnica:
Blackout | Blackout | 2022 | 81 min | EUA | Direção: Sam Macaroni | Roteiro: Van B. Nguyen | Elenco: Josh Duhamel, Abbie Cornish, Omar Chaparro, Nick Nolte, Bárbara de Regil, Hernan Del Riego, Edison Ruíz, Lou Ferrigno Jr.
Distribuição: Netflix.