O diretor Larry Clark despontou na indústria cinematográfica com o indie ultrarrealista Kids (1995). O filme retratava sem filtros um dia na vida de adolescentes nas ruas de Nova York – e, de quebra, lançou a carreira de Chloë Sevigny. Em seguida, subiu um patamar ao dirigir Kids e os Profissionais (Another Day in Paradise, 1998), um policial protagonizado por James Woods e Melanie Griffith. Porém, em seu terceiro longa, Clark resolveu retornar às origens. Bully: Juventude Violenta é mais um recorte de tirar o sono de pais com filhos jovens.
Desta vez, os protagonistas não são adolescentes, mas jovens adultos com 18 anos. Poderiam até ser o mesmo grupo do filme de 1995, sobrevivendo à mesma vida sem objetivos, em meio a drogas, promiscuidade, violência. Porém, é uma história real, uma adaptação do livro “Bully: A True Story of High School Revenge”, de Jim Schutze. E conta o assassinato de um rapaz por seus colegas, na Flórida.
Sem rumo
Nenhum dos envolvidos parece ser uma pessoa decente. A vítima, Bobby Kent (Nick Stahl), abusa agressivamente de seu melhor amigo Marty Puccio (Brad Renfro), que tem inteligência um pouco abaixo da média. Além disso, Bobby ainda estupra Ali Willis (Bijou Phillips), amiga de Lisa Connelly (Rachel Miner), que é namorada de Marty. Então, indignada com essa situação, Lisa conclui que a melhor solução é matar Bobby, com a ajuda desses e outros amigos.
Embora não tenham a menor capacidade para executar esse crime, conseguem executá-lo com o apoio de um suposto profissional no assunto. Mas, logo após, o comportamento deles facilmente denuncia que eles são os culpados, e, por fim, serão todos condenados à prisão. O filme deixa evidente que o plano não tinha a menor chance de dar certo. Porém, ele ocupa apenas o terço final do longa, e são os outros dois terços, que descrevem a rotina vazia desses jovens que mais choca o público. Eles estão completamente sem rumo, sem a menor noção da realidade, e, por isso, vulneráveis a todas as más influências num ciclo de convivência repleto delas. A família, com isso, fica isolada e desconectada dos filhos.
Indie de raiz
Larry Clark filma tudo isso com o estilo de cinema independente, que é o seu habitat natural. Usa a câmera na mão com propriedade, e surpreende com detalhes inusitados (como dos corpos dos jovens ou do cão em primeiro plano), até certo ponto improvisados. Incomoda, acrescentando mais desconforto à história já inquietante por si só.
Causa estranheza até quando replica, à sua maneira, recursos dos grandes cineastas. Por exemplo, ao posicionar a câmera ao centro do grupo de jovens que está ao redor num círculo, e girar em 360 graus com velocidade inconstante, por vezes parando em close em alguns dos personagens – até mesmo jump cuts entram nesse trecho. Mas não é à toa, pois os jovens estão confusos, tentando combinar como executarão o assassinato.
Incômodo do primeiro ao último minuto, Bully: Juventude Violenta (ou juventude perdida?) poderia servir como alerta aos pais. Mas acaba mesmo entregando uma sensação de desalento quanto ao futuro dessa geração.
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Ficha técnica:
Bully: Juventude Violenta | Bully | 2001 | 1h48min | EUA, França, Reino Unido | Direção: Larry Clark | Roteiro: David McKenna, Roger Pullis | Elenco: Brad Renfro, Nick Stahl, Bijou Phillips, Rachel Miner, Michael Pitt, Leo Fitzpatrick, Keli Garner, Daniel Franzese, Nathalia Paulding.