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Caixa Preta (filme)
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Caixa Preta

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Caixa Preta (Boîte Noire, 2021) traz um exercício de direção tão atordoante quanto os melhores momentos de Brian De Palma. O responsável é o diretor francês Yann Gozlan, que aqui realiza seu quarto longa-metragem.

Logo de cara, Gozlan decola com um intrincado travelling. A câmera recua da cabine dos pilotos de um avião, passa pela área dos passageiros. Até chegar à caixa preta nos fundos, objeto chave da trama. Então, ao fim dessa sequência sem cortes, acontece a tragédia. As 300 pessoas a bordo desse voo que partiu de Dubai com destino a Paris morrem no acidente. Esse plano sequência não representa um exibicionismo estilístico, o que seria um erro. Na verdade, evidencia o curto período de tempo desse desastre, e apresenta o espaço interno do avião. Além disso, se trata da única perspectiva isenta desses últimos instantes do voo. Posteriormente, o filme revisitará esse momento em diversas conjecturas criadas na mente do protagonista.

Protagonista fascinante

O personagem principal é fascinante. Mathieu Vasseur (Pierre Niney) possui um ouvido extremamente sensível, qualidade que o torna excepcional na sua função de analista de caixas pretas de aviões. Tal habilidade permite que ele escrutine sons que as pessoas médias nunca conseguiriam decifrar. Aliás, ao acompanharmos seu trabalho, nos lembramos de Um Tiro na Noite (Blow Out, 1981). No filme de Brian De Palma, John Travolta interpreta um editor de som de cinema. E ele desvenda um crime a partir de um acidente que ele gravou enquanto captava sons para filmes.

A princípio, Mathieu Vasseur nos impressiona tanto quanto um James Bond, por esse seu dom quase sobre-humano. Nesse sentido, ficamos deslumbrados como ele consegue identificar palavras praticamente invisíveis enquanto investiga a caixa preta do avião que se acidentou. Assim, com extrema rapidez, ele elucida a causa como sendo um atentado terrorista. E concordamos com Vasseur quando o filme nos apresenta na tela o que ele visualizou em sua mente.

Contudo, o que torna o protagonista fascinante é que descobrimos que ele pode cometer erros. Sua compulsão pelos detalhes e sua autoconfiança já o levaram a um erro crasso no passado, e ele parece caminhar para o mesmo desfecho novamente. A trama dá uma virada, e arrisca arrancar o espectador do deslumbramento inicial decorrente da genialidade do personagem principal, para a posição de questioná-lo. Então, fica a dúvida se o restante do longa se sustentará nessa nova toada. Afinal, essa reviravolta acontece quando ainda restam 40 minutos para o final.

A direção de Yann Gozlan

O diretor Yann Gozlan insiste em replicar para o público a visão das conjeturas do protagonista. Enquanto isso, lança pistas sobre traições de pessoas próximas a ele. Por exemplo, a sua esposa Noémie (Lou de Laage) e seu melhor amigo Xavier Renaud (Sébastien Pouderoux), ambos com cargos importantes dentro da indústria aeronáutica. Se, por um lado, perdemos a fé cega nas conclusões de Vasseur, por outro, continuamos ao seu lado por sua integridade. Assim, ele continua sua luta solitária até o fim, preso em sua obsessão. A conclusão não traz sua salvação, mas resgata a moralidade de Noémie, tão cara a ele.

Caixa Preta mantém seu tom durante toda sua duração, mesmo lidando com uma trama complexa, que envolve corrupção no alto escalão de grandes empresas. E mesmo sustentando um protagonista falível. A direção de Yann Gozlan é essencial nesse êxito. Seu talento fica evidente desde a sequência inicial. Mas, também, passa pelas recorrentes recriações visuais das conjeturas do protagonista, pelas cenas de suspense clássico, até o crucial uso do personagem Victor Pollock (Olivier Rabourdin). Este surge no começo de forma tão marcante que nos lembramos dele quando reaparece na parte final.

Enfim, o resultado é tão bom que ficamos curiosos em conhecer seus três longas anteriores. São eles: O Cativeiro (Captifs, 2010), Un homme idéal (2015), também com Pierre Niney, e Asfalto de Sangue (Burn Out, 2017), este disponível na Netflix.

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Ficha técnica:

Caixa Preta | Boîte Noire | 2021 | França, Bélgica | 129 min | Direção: Yann Gozlan | Roteiro: Nicolas Bouvet-Levrard, Yann Gozlan, Simon Moutairou, Jérémie Guez | Elenco: Pierre Niney, Lou de Laâge, André Dussollier, Olivier Rabourdin, Sébastien Pouderoux, Guillaume Marquet, Mehdi Djaadi, Anne Azoulay, Aurélien Recoing, Grégori Derangère.

Distribuição: Bonfilm.

Trailer:

O O filme está no Festival Varilux de Cinema Francês, que acontece entre 25 de novembro e 8 de dezembro de 2021.

Onde assistir:
Caixa Preta (filme)
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