Cano Serrado deixa entrar água na pólvora de um tema potencialmente explosivo.
Na região centro-oeste do Brasil, o desaparecimento de dois policiais coloca em confronto a polícia da capital e de uma pequena cidade do interior chamada Cotas.
O Sargento Sebastião e seu pequeno pelotão atacam covardemente Luca e Manuel, enquanto eles dormiam dentro do carro à beira da estrada. Luca é levado para a prisão, onde é torturado com selvageria para que confesse o roubo e assassinato do caminhoneiro irmão do sargento. Então, o superior e a equipe de Luca e Manuel partem para o interior para investigar o desaparecimento dos colegas.
Tropa de Elite (2007) deu origem a vários filmes que revisitam o seu tema, o da corrupção e falta de ética dentro da polícia. Cano Serrado bebe dessa mesma fonte, que já se mostra esgotada. Seu roteiro aposta que conseguirá surpreender o espectador nesse assunto, mas a probabilidade de isso acontecer é muito baixa.
A trama
A história de Cano Serrado possui muitos furos. O filme não mostra os motivos que forçam os dois policiais a dormirem dentro do carro na beira da estrada, em uma região que é sabidamente perigosa, como afirma o motorista do ônibus que eles acompanham. Depois, um membro da equipe do Sargento Sebastião queima o carro dos policiais, mas, ao invés de queimar o corpo de Manuel, prefere ter o trabalho de enterrá-lo, logo ao lado do carro, o que é muito mais suspeito.
Além disso, quando o pessoal da delegacia da capital fica sabendo do desaparecimento de seus dois policiais, eles imediatamente correm para a cidade de Cotas, mas o filme não explica como eles sabiam exatamente para onde ir. E nem como eles encontraram o carro dos policiais que foi queimado.
A direção de Erik de Castro (que fez Federal em 2010) não ajuda a melhorar esse roteiro. O flashback do sargento que lembra a emboscada, e os outros que mostram os policiais combinando um golpe surgem de repente no filme, sem se diferenciar das cenas que acontecem agora. O filme não consegue comunicar visualmente os acontecimentos da narrativa, em alguns trechos. Por exemplo, no restaurante, dois clientes observam atentamente o Manuel, porque o reconheceram pelo retrato falado do suspeito do crime, mas isso não fica muito claro.
A trilha sonora, com rock pesado, destoa do ambiente do serrado, soando urbano demais, principalmente porque surgem em trechos onde nada acontece. Além disso, ela entra ruidosa tanto nas cenas com a polícia do interior como naquelas com a polícia da capital. Na verdade, funcionaria muito melhor se tivessem temas específicos para cada grupo.
Cano Serrado parece realizado seguindo uma receita para o sucesso. E é necessário muito mais que isso para se fazer um bom filme.
Ficha técnica:
Cano Serrado (Cano Serrado, 2019) Brasil. 89 min. Dir: Erik de Castro. Elenco: Cesario Augusto, Silvia Lourenço, Jonathan Haagensen, Paulo Miklos, Cibele Amaral, Fernando Eiras, Milhem Cortaz, Naruna Costa, Rodrigo Brassoloto, Rubens Caribé, Sergio Cavalcante, Mariana Molina.
Distribuição: H2O.