O cinema fantástico de Carro Rei ousa quebrar o limite entre o humano e a máquina.
Coincidentemente, esse tema o aproxima do vencedor da Palma de Ouro em Cannes deste ano. Tanto aqui como em Titane (que ainda não vimos), rompe-se a barreira que separa as pessoas dos carros, inclusive em ambos temos cenas de sexo entre uma mulher e um veículo.
A trama
Em Carro Rei, uma mulher dá à luz dentro de um carro. E o bebê ganha o nome do modelo desse veículo: Uno. Mas, a ligação entre eles é ainda mais profunda, pois eles conseguem falar um com o outro. Por outro lado, o tio de Uno, Zé Macaco, que é um exímio mecânico, reforma o veículo onde Uno nasceu e que provocou a morte da mãe do menino. O carro reformado ganha o nome de Carro Rei.
Quando surge uma lei que proíbe carros velhos de circularem pela cidade, Zé Macaco começa a repaginar os veículos nessas condições, salvando-os de serem encostados. Porém, essas unidades podem virar uma ameaça sob a liderança do Carro Rei.
Enquanto essas máquinas adquirem habilidades humanas, Zé Macaco parece regredir. Encaixa uma peça eletrônica à frente de sua boca para falar com os carros, e caminha como um símio.
Criatividade
É difícil não lembrar de Christine: O Carro Assassino (1983), principalmente nas primeiras cenas que revelam que o Carro Rei tem vontade própria. Afinal, ele até usa o rádio para expressar seus sentimentos, como acontece no filme de John Carpenter. Porém, a diretora Renata Pinheiro vai além, e envereda por temas socioambientais e detalhes curiosos.
Para começar, o roteiro escolhe nomes dos personagens que já revelam alguma característica deles. Por exemplo, Uno, Zé Macaco, Mercedes (a amante do carro) e Amora (a garota da associação agrícola). No mesmo sentido, coloca a canção “Automatic Lover”, de Dee D. Jackson, na cena de sexo entre o carro e uma mulher.
No entanto, quanto às questões mais profundas, o filme se concentra no embate entre o ser humano e a máquina ou, em outros termos, entre a natureza e a tecnologia. Daí nascem a discussão entre Uno e Amora, e a imagem do mato crescendo nos carros parados nas ruas. Porém, em contraste com essa sugestão otimista, o filme conclui com o já inumano Zé Macaco animado com a visão de um enorme pátio com centenas de carros abandonados para ele transformar.
Prêmios e festivais
Carro Rei foi o grande vencedor do 49º Festival de Cinema de Gramado, levando quatro prêmios: melhor filme, melhor trilha musical, melhor direção de arte e melhor desenho de som.
Além disso, o filme recebeu indicações no Fantasia Film Festival, Neuchâtel International Fantastic Film Festival e Rotterdam International Film Festival.
Aliás, não perca a oportunidade de assistir ao filme. Entre 9 e 19 de setembro de 2021, Carro Rei está disponível no 12º Cinefantasy.
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Ficha técnica:
Carro Rei | 2021 | Brasil | 97 min | Direção: Renata Pinheiro | Roteiro: Sergio Oliveira, Renata Pinheiro, Leo Pyrata | Elenco: Matheus Nachtergaele, Luciano Pedro Jr, Jules Elting, Clara Pinheiro, Adélio Lima, Ane Oliva.
Distribuição: Boulevard Filmes.
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