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Corsage (filme)
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Corsage | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6.5/10

6.5/10

Crítica | Ficha técnica

Em um dos muitos momentos marcantes de Ludwig (1973), de Luchino Visconti, a princesa Sissi (Romy Schneider) visita um dos luxuosos palácios do Rei Ludwig (Helmut Berger) e cai na gargalhada, impressionado com tanta riqueza estacionada em castelos vazios. Sissi, prima de Ludwig, deixava entrever uma presença íntima na vida do monarca, mas também uma instância crítica.

Em Corsage, de Marie Kreutzer, Sissi é vista logo no começo com um Ludwig menos adoecido e destruído que o de Visconti, mas a ambição parece ser a de retratar a imperatriz de uma maneira bem mais complexa, assim como sua própria relação com Ludwig se torna mais complexa que no filme de Visconti, cuja complexidade está toda no rei louco da Baviera.

Entre o final de 1877 e 1878 o filme desenvolve uma especulação sobre os últimos meses de vida da Imperatriz. Ela, na pele de Vicky Krieps, atriz sensação do momento, é vista em sua crise dos 40 anos, quando seu entorno cobra um comportamento adequado ao lugar que ocupa, ao mesmo tempo em que essa prisão da nobreza e suas etiquetas a mata aos poucos. Em dado momento, até sua filha diz que fica envergonhada com o comportamento da mãe.

Apresentam-na ao cinema, experiências ainda pouco divulgadas das imagens em movimento antes que os Lumière promovessem a famosa sessão de dezembro de 1895. Ela pergunta se a máquina captaria os sons que faria, recebe uma resposta negativa. Vemos então o resultado de suas estripulias mudas, uma forma um tanto infantil de caracterização de sua personalidade.

Ousadia modesta

Kreutzer segue um pouco a linha de Maria Antonieta (2006), de Sofia Coppola. Não chega a colocar pós punk na trilha, mas enfeita algumas cenas com uma música moderna etérea. O efeito não é novo. Rossellini já o havia feito em seus filmes históricos, colocando a música eletrônica de Mario Nascimbene no retrato da intimidade dos filósofos em Descartes (1974) ou Blaise Pascal (1972).

Estranhamente, mesmo com essa trilha ousada Rossellini não nos afasta do período retratado, enquanto Kreutzer procura um descolamento para investigar a posição das mulheres dentro de uma sociedade patriarcal, ontem como hoje. Nada errado com esse procedimento, ainda mais que, nesse deslocamento, temos uma belíssima imagem logo no início: a música etérea acompanha a subida de uma escadaria por Sissi e suas acompanhantes, incluindo dois cachorros.

O problema é que na maior parte o filme se revela muito mais comportado do que prometia. Por vezes está mais próximo da trilogia rococó que Ernst Marischka realizou entre 1955 e 1957 do que de Visconti ou Sofia Coppola, e não são as cenas de nudez e sexo que podem mudar essa impressão.

Que o peso da produção tenha feito com que a iconografia de época falasse mais alto que a crítica não é de surpreender. O dinheiro fala sempre mais alto, mesmo que seja pelos adornos. Mas Kreutzer dava pinta que iria ser mais ousada, enquanto a ousadia aparece em doses bem modestas, infelizmente.

Vicky Krieps

Por fim, confesso que não vejo esse talento todo na Vicky Krieps. Sua performance me irrita mais em Trama Fantasma (Phantom Thread, 2017), mas como Sissi tem também seus momentos forçados, como se estivesse sempre atuando para ganhar prêmios. Após a cena final, por exemplo, que é bela, ela aparece, já nos créditos, dançando em câmera lenta. É meio constrangedor. Parece-me uma atriz que atenua a complexidade de suas personagens.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Corsage | 2022 | 114 min | Áustria, Luxemburgo, Alemanha, França | Direção e roteiro: Marie Kreutzer | Elenco: Vicky Krieps, Colin Morgan, Tamás Lengyel, Finnegan Oldfield, Ivana Urban, Alma Hazun.

Distribuição: Imovision.

Trailer:
Corsage
Onde assistir no streaming:
Corsage (filme)
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