“Creed: Nascido para Lutar” não deixa Rocky acabar
“Creed: Nascido para Lutar” retoma a série de filmes sobre o lutador Rocky, criado e interpretado por Sylvester Stallone desde 1976, e cujo último filhote era “Rocky Balboa” (2006), o sexto deles.
Desta vez, Rocky não é o protagonista. Um prológo, que se passa em 1998, em um reformatório, nos introduz ao adolescente Adonis Johnson brigando com um dos garotos dos locais. Sua vida está prestes a dar uma guinada. Logo, quem aparece para visitá-lo é a viúva do seu pai, uma mulher rica que o adotará e evitará que Adonis seja enviado a outro orfanato.
Em seguida, o filme revela que o menino é o filho do lutador Apollo Creed, que morreu na luta contra o lutador soviético Drago em “Rocky IV” (1985). Mas, eles nunca se conheceram, porque Adonis é fruto de uma relação extraconjugal de Apollo.
Nasce um lutador
Chegando à idade adulta, Adonis abandona a carreira executiva para seguir os passos de seu pai, como lutador de boxe. Parte para Filadélfia, onde Rocky agora ganha a vida como dono do restaurante Adrian (nome da sua falecida esposa). Adonis convence-o a ser seu treinador, e começam a trabalhar juntos. Porém, quando a origem dele se torna conhecida, o empresário do atual campeão deseja uma luta imediatamente, a fim de explorar o nome de Creed na divulgação do evento. Adonis aceitará o desafio, mesmo tendo lutado profissionalmente apenas uma vez.
“Creed: Nascido para Lutar” é um filme que supera as expectativas. Surge como fruto do esforço de Ryan Coogler, diretor e criador da estória. Ele já havia sido bastante elogiado por seu longa metragem anterior, “Fruitvale Station: A Última Parada” (Fruitvale Station, 2013) e aqui conseguiu amarrar bem a trama, evitando que a sua ligação com os outros filmes da série soasse improvável demais.
A fotografia consegue reproduzir os tons dos filmes originais, mesmo com o largo lapso de tempo transcorrido. Força um pouco no uso, em pelo menos duas sequências, do recurso da montagem para mostrar o treinamento de Adonis. Na primeira, injeta criatividade no uso da música. Começa com um blues e acaba num rap, mostrando suas antigas raízes se adaptando para a personalidade de hoje do jovem aspirante a lutador.
Direção moderna
Por outro lado, o diretor Coogler mostra modernidade na sequência da luta final, utilizando variados expedientes. Por exemplo, no momento de concentração no embate, escurece tudo ao redor, iluminando apenas os lutadores. Em uma luta de muitos rounds, precisa alternar os recursos. Usa cortes rápidos com detalhes do sangue derramado. Coloca slow motion e silêncio quando um soco muito forte é sentido pelo outro boxeador. Por fim, acelera a velocidade das cenas em outros momentos.
Para quem gosta de cinema, porém, a luta mais espetacular é a primeira, de Adonis contra o filho do treinador do ginásio de Rocky. A luta inteira é um plano sequência, ou seja, sem cortes. Dessa forma, coloca o espectador dentro do ringue, prendendo a respiração e sem ter para onde ir até que o embate termine.
Além disso, os realizadores acertaram também ao retratar Rocky já envelhecido, o que possibilita inserir humor na trama. Por exemplo, quando ele não entende o que Adonis quer dizer ao lhe contar que as informações hoje estão todas nas nuvens. Após uma vitória de Adonis, eles gritam que vão festejar, e o que vemos em seguida é eles comendo sorvete no sofá assistindo televisão.
Adonis é vivido por Michael B. Jordan, o mesmo ator principal de “Fruitvale Station”. Ele revisita cenas históricas de Rocky, como correr pelas ruas de Filadélfia com os moradores seguindo. Juntos, sobem um lugar nostálgico: as escadarias da cidade.
Como resultado, “Creed: Nascido para Lutar” faz a gente torcer por mais um filme. Afinal, Michael B. Jordan mostra aptidão para manter a série viva. De preferência, sob a batuta de Ryan Coogler.
Ficha técnica
Creed: Nascido para Lutar (Creed, 2015) 133 min. Dir: Ryan Coogler. Rot: Ryan Coogler & Aaron Convington. Com Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Andre Ward, Tony Bellew, Ritchie Coster, Jacob ‘Stitch’ Duran, Graham McTavish, Malik Bazille, Wood Harris, Live Schreiber, Alex Henderson.
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