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Cruella (filme)
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Cruella

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Cruella não é uma ideia original. Um spin-off que humaniza uma vilã de uma história famosa? Ora, já vimos isso em Malévola (2014). Uma empresária da moda poderosa e temida? Pois nos lembra a Miranda de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006). Mas não permita que isso te afaste desse filme baseado no livro “101 Dálmatas” de Dodie Smith. Afinal, a estória tomou a liberdade de situar a trama na Londres dos anos 1970, abrindo espaço para um delicioso paralelo do surgimento da música (e da atitude) punk, num filme, por isso, recheado do melhor do rock da época. Além disso, tem ainda Emma Stone, deslumbrante em seu papel duplo, duelando com Emma Thompson.

A trama já começa bem, mostrando a infância de Estella, cujo instinto rebelde (que a transforma em Cruella) é colocado à prova quando sofre bullying na escola por conta de seu cabelo metade preto metade branco. E, logo, descobrimos o motivo que a tornará uma vilã no futuro. Mas o filme melhora ainda mais quando ela fica adulta, numa entrada triunfal de Emma Stone em cena, com Stella com o cabelo tingido de ruivo, evidenciando que ela quer se afastar da sua personalidade Cruella. Ao lado de dois amigos da infância, Estella é uma trambiqueira que vive de pequenos furtos. Porém, seu maior sonho é ser uma estilista de moda. Um belo plano sequência, com movimentos acrobáticos da câmera, revela as grandes esperanças de Estella quando consegue um emprego na famosa loja de departamentos Liberty. Esse recurso de direção serve para destacar sua frustração ao perceber que fará apenas a limpeza do local.

Trama longa mas envolvente

Quando tentamos recordar de todas as reviravoltas do enredo, notamos que o filme dá muitas voltas. Por isso, sua duração é de quase duas horas e quinze minutos, incomum para esse gênero cinematográfico. Mas o diretor Craig Gillespie, de Eu, Tonya (I, Tonya; 2017), é habilidoso, e impõe um ritmo agitado, com muito humor e muita música, e detalhes narrativos que se interrelacionam durante a estória. Assim, nem percebemos o tempo passar, e até desejamos ficar no filme por mais tempo quando ele acaba.

Conforme a trama avança, a temperatura esquenta cada vez mais. Estella, sem querer, é descoberta pela Baronesa (Emma Thompson), a poderosa estilista da cena londrina. A talentosa Estella, assim, poderia fazer carreira na empresa dela. Porém, além de a chefona se apropriar de suas criações e não valorizar ninguém que trabalha para ela, Estella descobre um segredo terrível sobre suas origens. Então, a maldosa Cruella assume o controle para colocar em marcha seu plano de vingança. Emma Stone encarna essa famosa vilã incorporando alguns trejeitos da versão animada da Disney de 1961, em especial o corpo curvado (que não existe em Estella), além, claro, do cabelo preto e branco. Aliás, outros elementos remetem a esse longa dos anos 1960. Por exemplo, a dupla de amigos/ajudantes de Cruella, o casal que depois terá os 101 dálmatas, a mansão de Cruella etc.

Dessa forma, o roteiro cria em cima do material original sem traí-lo, construindo uma origem que explica essa vilã. Que, desde criança, já tinha um duplo, devido ao seu triste destino ao nascer, e ainda agravado por outras tragédias posteriores. Até o final de Cruella, essas duas dimensões opostas disputam espaço, e uma possível continuação poderá desvendar o que levará à escolha pelo caminho do mal.

A rebeldia punk de Cruella

Mas além dessa trama inteligente, Cruella traz um pano de fundo social revelador. Através das músicas, que vão do rock da época ao punk rock da segunda metade dos anos 1970, o filme traça um paralelo da rebeldia reprimida de Estella, que acaba eclodindo na figura desafiadora de Cruella. Assim, ela é capaz de invadir os eventos chiques da Baronesa para mostrar sua moda transgressora com agressividade. Na versão Estella, o máximo que ela faz é descontruir a vitrine da Liberty, sob estado de embriaguez. Esse paralelo se encaixa perfeitamente no enredo, e traz um sabor especial que não estava no livro de Dodie Smith, publicado originalmente em 1956. O show apoteótico para apresentar a coleção de Cruella é emblemático desses tempos anárquicos (como entrega o “A” com um círculo em volta em algumas versões do poster do filme).

Enfim, Cruella surpreende. Não é um filme juvenil ingênuo como se poderia esperar. É sagaz, e muito divertido!

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Ficha técnica:

Cruella (2021) EUA/Reino Unido. 134 min. Direção: Craig Gillespie. Roteiro: Dana Fox, Tony Mcnamara. Elenco: Emma Stone, Emma Thompson, Joel Fry, Paul Walter Hauser, Emily Beecham, Mark Strong, Kayvan Novak, Kirby Howell-Baptiste.

Distribuição: Disney

Trailer:
Cruella
Onde assistir:
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