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Cyrano (filme)
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Cyrano

Avaliação:
10/10

10/10

Crítica | Ficha técnica

Joe Wright adapta com muito bom gosto o musical de Erica Schmidt baseado na peça de Edmond Rostand de 1897. Peter Dinklage assume o papel principal, o que permite uma variação inteligente na história original. Neste Cyrano (2021), no lugar do nariz exageradamente grande, é o nanismo que faz o protagonista acreditar que sua amiga Roxanne (Haley Bennett) nunca sentirá o amor que ele sente por ela. Então, para evitar que ela seja forçada a se casar com o terrível Duque De Guiche (Ben Mendelsohn), Cyrano resolve ajudar o soldado Christian (Kelvin Harrison Jr.) a conquistar Roxanne. Para isso, o talentoso poeta Cyrano escreve cartas de amor para Roxanne em nome de Christian, que é inepto com as palavras.

Cyrano conta com uma produção caprichada. Filmado em locações em castelos italianos e em campos onde acontece uma batalha, vários figurantes participam das cenas. Inclusive nos trechos musicais, permitindo ao diretor Joe Wright brincar, ainda que timidamente, com as coreografias em grupo de Busby Berkeley. Não chega a ter os efeitos de caleidoscópio deste, mas os movimentos sincronizados à perfeição causam uma bela impressão. Sem dúvida, Wright preferiu ousar menos e focar na narrativa. Por isso, as partes cantadas não surgem com tanta frequência, predominam os diálogos que contam a história. Como resultado, é muito fácil acompanhar o enredo, e as canções são quase todas ótimas.

Imagens e roteiro

O visual se destaca pelos tons pasteis, cuja suavidade se contrasta com as fortes maquiagens que marcam a parte inicial do filme. Nela conhecemos os protagonistas em uma apresentação de teatro. Com uma sagacidade incomparável, Cyrano rouba a cena do ator oficial, e ainda prova sua destreza na esgrima, quando desafiado. Dessa forma, acredita que encantou sua amada Roxanne, mas ela se apaixonou à primeira vista pelo recém-chegado Christian, que estava na plateia. Ao longo do filme, nos deslumbramos com imagens belíssimas, como as cartas que voam em câmera lenta no quarto de Roxanne, ou a composição da cena na sala feminina, que se assemelha a uma pintura. Tudo muito bem planejado, e por isso conectadas com a narrativa.

Um bom exemplo da amarração inteligente do roteiro é o uso das letras da canção que diz: “Don’t you dare to say you love me. I’ve heard that before. I need more.” Esse desabafo de Roxanne à falta de inspiração de Christian ecoa o desprezo dela pela declaração de amor do duque, que vimos em cena anterior. Com isso, o roteiro aproveita a afirmação na canção de que “Eu te amo” não é suficiente para ela. Parece óbvio, mas muitos musicais no cinema deixam de construir essa conexão entre os diálogos e as letras.

Um musical fluído

Por outro lado, Cyrano é um filme que privilegia as emoções. Provoca risos no patético primeiro encontro entre Rosanne e Christian, porque este é incapaz de dizer frases inteligentes em o apoio de Cyrano. Mas, também faz chorar quando Cyrano se declara para Roxanne cantando, fazendo-se passar por Christian. A melancolia da melodia expressa a dor profunda do poeta que acredita que não pode ser amado. Para tornar a cena ainda mais sensibilizadora, a câmera acompanha a reação de Cyrano quando Christian sobe à varanda de Roxanne para beijá-la.

Este musical parece mais fluído do que outros exemplares do gênero. Além de apresentar poucos e belos trechos cantados, e muitos diálogos, no filme os protagonistas não dançam. Assim, se em Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961) o público se incomodava com as brigas dançadas, aqui não vemos Peter Dinklage, Haley Bennett, Kelvin Harrison Jr. ou Ben Mendelsohn dançando enquanto cantam. Com isso, praticamente entramos nas canções como se fossem extensões dos diálogos. Funciona muito bem mesmo quando a perspectiva se afasta dos protagonistas, na cena em que três soldados se despedem antes de irem para uma batalha suicida. Aliás, um deles é interpretado pelo músico Glen Hansard, ator de Apenas uma Vez (Once, 2007).

Direção e elenco

Quanto ao elenco, Cyrano entra na lista de musicais que surpreendem por escalarem atores que não são cantores. Nesse quesito, Peter Dinklage, com sua voz grave evidencia que não é um vocalista de musical. Porém, ele compensa isso com uma interpretação magistral, cujo ápice é a citada cena da varanda de Roxanne, na qual ele se faz passar por Christian com uma dor em seu coração. Já Haley Bennet possui uma voz potente, tendo mesmo estreado no cinema na comédia romântica musical Letra e Música (Music and Lyrics, 2007).

O diretor Joe Wright tende a fazer o cinema clássico. Realizou bons dramas de época ao lado de Keira Knightley: Orgulho & Preconceito (Pride & Prejudice, 2005), Desejo e Reparação (Atonement, 2007) e Anna Karenina (2012). Ademais, um potente drama de guerra em O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017) e um razoável suspense hitchcockiano em A Mulher na Janela (The Woman in the Window, 2021). Desta vez, acertou no bom gosto, e Cyrano é um musical para se assistir com sorrisos e lágrimas, uma das melhores produções do gênero dos últimos anos.

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Ficha técnica:

Cyrano | 2021 | Reino Unido, Estados Unidos, Canadá | 124 min | Direção: Joe Wright | Roteiro: Erica Schmidt | Elenco: Peter Dinklage, Haley Bennett, Kelvin Harrison Jr., Ben Mendelsohn, Monica Dolan, Bashir Salahuddin, Joshua James, Anjana Vasan, Ruth Sheen, Glen Hansard, Sam Amidon, Scott Folan.

Obs: assistimos ao filme Cyrano em 13 de janeiro de 2022, dentro da série The Wrap Screenings.

Onde assistir "Cyrano":
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