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A Mulher na Janela (filme)
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A Mulher na Janela

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

A estória no livro A Mulher na Janela, escrito por A. J. Finn e publicado em 2018, já guarda fortes semelhanças com Janela Indiscreta (1954), um dos melhores filmes de Alfred Hitchcock. Nas mãos do diretor Joe Wright, essa semelhança fica ainda mais acentuada. Afinal, o colorido forte, com o verde em destaque, a preferência pela comunicação visual, a movimentação da câmera sobre trilhos, a trilha sonora, enfim, tudo isso emula o clássico de Hitchcock.

Consciente disso, Joe Wright insere logo no prólogo uma imagem de James Stewart em Janela Indiscreta na tela da TV na casa da protagonista Anna Fox, papel de Amy Adams. Dessa forma, o diretor pensa como Hitchcock, e já tira da frente um obstáculo que pode atrapalhar o espectador na apreciação do filme. Em outras palavras, Wright quer evitar que o público entre no jogo de procurar, no seu filme, os pontos em comum com Janela Indiscreta.

Sem poder sair de casa

Se o personagem de James Stewart estava impedido de sair de casa porque estava com a perna quebrada, o de Amy Adams sofre de agorafobia. Ou seja, Anna Fox tem medo de ir para a rua. Com isso, ambos adquirem o mau hábito de bisbilhotarem a vida de seus vizinhos que moram em frente. No caso de Stewart, a perspectiva é mais ampla, pois ele mora em um apartamento num andar alto. Por isso, pode observar vários moradores do prédio vizinho. Já a personagem Anna Fox mora num sobrado. E sua curiosidade se concentra na casa imediatamente em frente.

A aparência da protagonista denuncia a saúde debilitada por causa desse distúrbio. E que piora ainda mais com a chegada de um novo morador na casa da frente. Principalmente, depois que recebe a visita de um deles, o adolescente Ethan, e, depois da sua mãe, Jane (Julianne Moore). Então, certa noite ela testemunha alguém esfaqueando essa mulher. Aparentemente, o marido é o assassino. Porém, quando começam as investigações, parece que foi apenas uma alucinação. Afinal, outra mulher se apresenta como Jane.

Aliás, essa virada psicológica na estória ganha uma referência hitchcockiana com breve trecho de Quando Fala o Coração (1945), em que Ingrid Bergman interpreta uma psiquiatra. Porém, o filme perde seu encanto justamente quando revela o trauma vivido por Anna Fox, causador de sua fobia e de sua instabilidade mental. Com isso, parece que tudo o que ela viu foi apenas fruto de sua imaginação, começando pela conversa com a filha e o marido no prólogo.

Spoilers adiante

Enquanto Janela Indiscreta potencializava o suspense cada vez que tínhamos mais certeza do crime cometido, aqui acontece o contrário. Assim, ao invés de trabalhar nessa construção climática, A Mulher na Janela prefere surpreender o público apresentando um culpado inesperado. Porém, faz isso com uma resolução exageradamente facilitada, onde, basicamente, vale tudo porque Ethan é um serial killer ainda em desenvolvimento. E, que, por isso, ainda não estabeleceu seus padrões.

Dessa forma, não se explicam satisfatoriamente as mortes da assistente do pai em Boston e do inquilino de Anna. De fato, essas mortes nem eram necessárias. Como em Janela Indiscreta, um assassinato em si já é suficiente para a trama. Então, tudo poderia girar em torno da morte da mãe biológica de Ethan, e os esforços da família para acobertar o crime. Seria mais simples e mais convincente.

A direção

Joe Wright é outro diretor de prestígio a assumir uma produção da Netflix. Na verdade, ele já havia trabalhado com essa empresa de streaming ao dirigir um dos episódios da série Black Mirror, mas agora é um projeto maior.

A carreira de Wright traz filmes bem recebidos pela crítica e pelo público. Muitos deles com indicações ao Oscar, como Orgulho & Preconceito (2005), Desejo e Reparação (2007), Anna Karenina (2012). O mais recente, O Destino de uma Nação (2017), rendeu um Oscar a Gary Oldman, que também atua em A Mulher na Janela.

O talento do diretor está evidente na primeira parte de A Mulher na Janela. Primeiro, porque Wright constrói um clima com alta carga de suspense, a partir de vizinhos misteriosos e uma protagonista fragilizada. Segundo, pela homenagem que ele presta ao clássico de Hitchcock. Além disso, insere um pouco de humor nessa trama pesada. Por exemplo, quando Anna Fox tenta investigar quem é a verdadeira vizinha Jane Russell, e a busca na internet só retorna imagens da antiga atriz homônima.

O elenco

Quanto aos atores, destaque para Gary Oldman como o Sr. Russell. Interpretando com a habitual intensidade, ele cria um personagem ameaçador, capaz até de agressões físicas. Ao lado dele, no papel de sua esposa, a segunda Anna Fox do filme, está a veterana Jennifer Jason Leigh, de Os Oito Odiados (2015).

Já Amy Adams apresenta corajosamente uma aparência debilitada, coerente com sua frágil personagem. Desta vez, a maquiagem cria uma feição apática, ao invés de glamurizar a atriz. Até mesmo o corpo de Adams está com uma silhueta sem formas.

Ademais, é interessante vê-la atuando, pela primeira vez, ao lado de Julianne Moore, pois muitas pessoas tendem a confundir as duas atrizes – apesar de serem bem diferentes. Adams e Moore estarão juntas novamente em Dear Evan Hansen, longa metragem atualmente em pós-produção.

Em suma, A Mulher na Janela consegue ser um filme acima da média pela primeira metade de seu enredo e pela direção de Joe Wright. Com certeza, foi sua ideia colocar um final estendido, que demora para terminar. Com isso, ele novamente brinca com a expectativa do espectador, que pensa que haverá uma surpresa final nos últimos segundos.  


A Mulher na Janela (filme)
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