Deadpool & Wolverine reúne novamente os dois personagens do universo X-Men que obtiveram resultados opostos em seus filmes solos. Os longas do Wolverine são fraquíssimos, exceto Logan (2017), enquanto os de Deadpool agradaram por quebrar o estigma de que super-heróis são somente para o público juvenil. Eles se encontraram, aliás, em X-Men Origens: Wolverine (2009).
Tendo em conta esse desempenho anterior, esse novo lançamento aposta, compreensivelmente, nas características dos filmes do Deadpool. Portanto, a comédia impera com palavrões e piadas sujas cheias de conotações sexuais, o que novamente lhe garante uma classificação indicativa para 18 anos. Além disso, o herói, novamente interpretado por Ryan Reynolds, a toda hora rompe a quarta parede, logo na abertura comentando sobre essa produção (e cita a Marvel, invoca Hugh Jackman – que faz o Wolverine, etc.). Desta vez, essa metalinguagem acaba extrapolando para o conceito do multiverso, na sua forma mais alucinante. Nesse sentido, parece influenciada pelo megassucesso Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022) – lembrando que Deadpool 2 é de 2018.
Por isso, a trama envolve inúmeras referências, as mais absurdas possíveis, especialmente em relação a outros super-heróis da Marvel. Num dos momentos mais malucos, os protagonistas enfrentam uma dezena de versões diferentes do Deadpool, como bebê, robô, mulher, e muito mais. Até o enredo em si depende da ideia do multiverso. O mundo do Deadpool que conhecemos está prestes a ser destruído, então, ele precisa ir atrás de um Wolverine para salvá-lo. E acaba num universo chamado O Vazio, onde ele e uma versão loser do Wolverine enfrentam a poderosa irmã de Xavier – a Cassandra Nova, surpreendentemente vivida pela delicada Emma Corin.
Para um tipo de público
O cuidado com os detalhes tenta blindar essa produção dos olhares críticos dos fãs mais radicais. Por isso, traz os atores originais que interpretaram a maioria dos personagens que se relacionaram com os protagonistas. Entre eles, Dafne Keen (a agora crescida Laura de Logan), Jennifer Garner (Elektra), Wesley Snipes (Blade), John Favreau (Happy Hogan). Por outro lado, traz novos atores em papéis vividos por outros, como o Gambit de Channing Tatum, e o Tocha Humana de Chris Evans. Enfim, para os aficionados, Deadpool & Wolverine é um verdadeiro deleite, inclusive com piadas que só os especialistas sacam.
Na direção, desta vez está Shawn Levy, debutando nesse gênero dos super-heróis. Mas, é um profissional experiente, que dirigiu a trilogia Uma Noite no Museu, e ainda fez com Ryan Reynolds os filmes Free Guy (2021) e O Projeto Adam (2022). Levy materializa o que imagina o que o grupo de roteiristas (além dele próprio e Reynolds, a equipe inclui Rhett Reese, Paul Wernick e Zeb Wells). Ou seja, segue o que já vimos nos filmes anteriores do Deadpool, como lutas viscerais e violentas ao som de uma música totalmente inesperada (por exemplo, “You’re The One That I Want”, da trilha de Grease [1978], durante o interminável combate entre os dois protagonistas que têm capacidade de regeneração). Além disso, o filme está repleto de música pop, que acentuam o tom do que já está nas imagens (como o encontro meloso com o cachorrinho da versão clean de Deadpool). No entanto, a influência da pegada excessivamente viajante dos Daniels acaba cansando, mesmo efeito que causou Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo – que, no entanto, foi um sucesso. Então, gostar ou não, depende do espectador.
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Ficha técnica:
Deadpool & Wolverine | 2024 | 127 min | EUA | Direção: Shawn Levy | Roteiro: Ryan Reynolds, Rhett Reese, Paul Wernick, Zeb Wells, Shawn Levy | Elenco: Ryan Reynolds, Hugh Jackman, Emma Corrin, Matthew Macfadyen, Jon Favreau, Morena Baccarin, Rob Delaney, Dafne Keen, Jennifer Garner, Wesley Snipes, Channing Tatum, Chris Evans.
Distribuição: Disney.