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Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
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Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
4/10

4/10

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Crítica | Ficha técnica

Já percebo os melindres nas redes sociais. Não se pode mencionar negativamente a produtora da moda. Que posso fazer se a A24 mudou, para pior, o panorama já meio problemático do cinema independente americano de 2000 para cá?

Desta vez, o título basta para afastar os mais astutos: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Como um filme com esse nome, que lembra o de uma fase esquizofrênica da banda de rock brasileira Titãs, pode ser bom? O desafio crítico está lançado, e seria bacana descobrir que, sim, um filme com esse título pode ser bom. Infelizmente, não é o caso.

Aí vamos para a sinopse, agora em português no IMDb: “Uma idosa imigrante chinesa…”. Esperem. Idosa? Michelle Yeoh, que ainda nem completou 60 anos? Foi um pré-adolescente que escreveu essa sinopse? No original, “An aging chinese”. Ok, uma pessoa em processo de envelhecimento. Ainda assim, a informação não é muito útil para entendermos a trama. Imigrante chinesa de meia idade seria mais conveniente, ainda mais porque ela está entre os problemas da jovem filha que namora uma garota “meia mexicana” e o pai senil.

Essa mulher, Evelyn, casada com um homem vivido pelo vietnamita Ke Huy Quan, entra numa espécie de multiverso de loucuras, vivendo uma aventura de muitas vidas a partir de um problema com o estabelecimento comercial familiar, uma lavanderia. Parece coisa da Marvel, e ao mesmo tempo flerta com um tipo moderno de wuxia (filme de ação oriental com artes marciais), regado a muita fantasia e humor. Tem ainda algo dos pequenos dramas familiares do início da carreira de Ang Lee em Taiwan. Tudo isso não forma um todo sequer razoável. No lugar temos uma bagunça insuportável de se ver.

Afetação indie

A entrada no multiverso acontece com mais ou menos 14 minutos. Termina aí a possibilidade de termos algo que preste. Faltam mais duas horas cheias de afetação indie metida a moderna e inclusiva. Na verdade, apenas uma versão ligeiramente diferente das bobagens criadas por Spike Jonze ou Charlie Kaufman.

Os diretores Daniel Kwan e Daniel Scheinert, ou seja, The Daniels, diretores de videoclipes celebrados na década passada, investem em vários tipos de imagens fofas e psicodélicas, desde a festinha no espelho com que o filme se inicia ao truque da imagem contida nele que será a de todo o filme, o espelho como ligação entre os universos, o espelho quebrado como fratura no multiverso.

Michelle Yeoh, a protagonista, precisa descobrir a hora de lutar e se tornar uma heroína de ação nos moldes que a fizeram estrela do gênero por filmes como Heroic Trio (Johnnie To, 1993) e O Tigre e o Dragão (Ang Lee, 2000), que, aliás, estão anos-luz acima deste.

O ator vietnamita Ke Huy Quan (nasceu em 1971, em plena Guerra do Vietnã) imita Jackie Chan em cenas de luta que procuram, por sua vez, resgatar algo dos clássicos dirigidos ou interpretados pelo astro chinês desde os anos 1980, incluindo suas participações hollywoodianas.

Infinitas possibilidades

O multiverso que se abre para Evelyn lembra também o artifício usado por Alain Resnais em Smoking / No Smoking, díptico de 1994 em que pequenas decisões da vida, tomadas a partir da primeira, a de fumar ou não fumar, determinavam todo um estado diferente das coisas. Claro que Resnais não estava interessado em efeitos especiais e outras firulas, mas queria pensar nas possibilidades que a vida abre a cada escolha que fazemos.

Em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, nos vemos com infinitas possibilidades, e as escolhas podendo acontecer ao mesmo tempo. A cada vez os personagens, sobretudo Evelyn e seu marido, precisam descobrir o caminho certo a seguir.

Todas essas referências são jogadas ao léu em um filme que procura ser espertinho antes de ser realmente divertido, terrivelmente banal e afetado antes de ser cinematograficamente interessante. Existe um único respiro de exceção, infelizmente muito breve, em meio a tamanha bobagem: o momento das pedras.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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