A abertura de Decisão de Partir (Heojil kyolshim) se parece com aqueles inícios de capítulo de série que relembram eventos anteriores em recortes rápidos. Essa sensação de quebra-cabeças continua, e até se intensifica, durante o restante do filme. O diretor do filme não é qualquer um. Park Chan-wook realizou o revolucionário Oldboy (Oldeuboy, 2003), até hoje sua maior obra-prima. Portanto, com certeza o desnorteamento que ele constrói com planos curtos, fora de ordem cronológica, mesclando flashbacks só pode ser intencional, para refletir o que sofre o protagonista, o policial Jang Hae-joon.
Jang Hae-joon investiga se um homem que caiu de um penhasco foi assassinado pela sua esposa, a misteriosa Song Seo-era. Mas ele fica obcecado por essa femme fatale, e desenvolve uma paixão que deturpa suas obrigações profissionais. O cinéfilo logo se lembra do personagem de James Stewart em Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958), bem como o de Sharon Stone em Instinto Assassino (Basic Instinct, 1992). Imagine como seria o encontro entre Scottie Ferguson e Catherine Tramell. No desenrolar da trama, Song Seo-era se casa novamente, remetendo também às clássicas viúvas negras que matam seus companheiros.
Confuso mas inventivo
Mas não é uma trama fácil de acompanhar. Park Chan-wook insiste em usar planos que confundem porque parecem que terminam antes do ponto que a edição deveria cortar. Muitos deles parecem até jogados a esmo, mas uma revisão, que esse filme exige, pode provar que todos os detalhes resultam de um minucioso planejamento do cineasta. Mas, isso não significa que o filme tenha um ritmo frenético por causa desses planos curtos, pois eles se misturam com outros que são longos.
Afinal, o diretor não busca o cinema moderninho mais fácil, e sim um cinema autoral com estilo próprio. E isso surge em vários momentos brilhantes. Por exemplo, o ponto de vista do marido morto, com a sutileza inovadora de colocar em primeiro plano desfocado uma formiga que caminha sobre o seu olho. Ou então a estranhíssima tomada que se afasta do close-up nos personagens para privilegiar o teto da casa.
Por fim, o filme reserva para a misteriosa protagonista uma morte em confinamento na praia que é absolutamente bizarro. De fato, o diretor aí assina como o realizador de Oldboy, que tem cena semelhante quando o protagonista surge de dentro de uma caixa.
Enfim, Decisão de Partir precisa ser visto mais de uma vez. As revisões farão crescer esse filme que, devemos admitir, é confuso. Mas que compensa pelas inventividades estilísticas do seu diretor.
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Sinopse:
Um homem cai do pico de uma montanha e morre. O detetive responsável pelo caso, Hae-joon, vai ao encontro da viúva da vítima, Seo-rae, que não mostra nenhum sinal de agitação com a notícia da morte do marido. Com seu comportamento tão diferente do de um parente em luto, a polícia a considera suspeita. Hae-joon interroga a indecifrável Seo-rae e, enquanto a observa, sente que está criando um interesse por ela.
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Ficha técnica:
Decisão de Partir | Heojil kyolshim | 2022 | 139 min | Coreia do Sul | Direção: Park Chan-wook | Roteiro: Park Chan-wook, Chung Seo-kyung | Elenco: Park Hae-il, Tang Wei, Lee Jung-hyun, Go Kyung-Pyo, Shin-Young Kim.
Distribuição: Diamond / Galeria.