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Depois do Vendaval (filme)
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Depois do Vendaval

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Depois do Vendaval é um dos melhores exemplares do “outro” John Ford. Não da sua famosa faceta do relator da epopeia histórica americana, mas daquela do descendente de irlandeses com um olhar nostálgico para suas origens. Seus pais eram imigrantes irlandeses que se fixaram em Maine, um dos estados localizados mais ao leste dos EUA. Ou seja, geograficamente, Ford nasceu num ponto que estava equivalentemente distante da Irlanda e do Oeste americano. Com isso, Ford esteve devidamente habilitado para contar em seus filmes a história das suas origens e a do seu destino.

A trama de Depois do Vendaval espelha esse sentimento de busca das origens. John Wayne vive o personagem Sean Thornton, um irlandês que foi criado nos EUA, e que agora retorna ao pequeno vilarejo onde nasceu, de nome Innisfree. Porém, ao comprar a antiga casa de sua família, ele arruma um desafeto, o vizinho grandalhão e briguento Will Danaher (Victor McLaglen), que também estava de olho na propriedade. Para complicar, Sean se apaixona pela irmã de Will, a fogosa Mary Kate, interpretada pela emblematicamente ruiva Maureen O’Hara.

Irresistivelmente engraçado

O filme tem narração do padre Peter Lonergan (Ward Bond), mas ele não interfere muito na trama. Porém, contribui para o tom cômico de Depois do Vendaval, que é irresistivelmente engraçado. Acima de tudo, o maior responsável pelas piadas é o beberrão Michaleen Oge Flynn, papel do baixinho Barry Fitzgerald. Ele é o condutor da charrete de Innisfree, algo semelhante a um atual motorista de taxi. Por isso, se torna o primeiro a conduzir Sean Thornton pela cidade, e depois cumpre a função de lhe explicar as tradições locais da comunidade.

Essencialmente, a comédia predomina no filme, não só por esses personagens, mas igualmente pelos próprios protagonistas, Sean e Mary Kate, cujo relacionamento alterna entre momentos românticos e desavenças engraçadas. Na verdade, os conflitos surgem por motivos culturais. Afinal, o americanizado Sean não entende a tradição local sobre o dote de Mary Kate. Como Sean é rico, ele não vê motivos para sua amada insistir tanto pelos trocados que ela tem direito e que o irmão se recusa a lhe dar no casamento.

Essa questão levanta dois temas que conferem certa profundidade à estória. Por um lado, o dote significa para Mary Kate um grau de independência que seu espírito indômito exige. Por outro, ela se sente envergonhada pelo que ela considera um ato de covardia de seu marido. Para ela, Sean está com medo de enfrentar o seu irmão. E, como a conclusão mostrará, na Irlanda os conflitos devem ser resolvidos através de uma boa briga. Aliás, depois da briga – ou do vendaval, como sugere o título nacional – os dois se tornam grandes amigos.

Duelo de gigantes

Nesse ponto, a escalação de Victor McLaglen é essencial. O ator inglês já havia trabalhado com John Ford no famoso filme O Delator (1935), outra incursão do diretor na história irlandesa. Dono de uma altura similar à de John Wayne, mas com envergadura maior, Victor McLaglen convencia, fisicamente, como um duro adversário para o gigante americano. Além disso, McLaglen leva para as telas a autoconfiança exagerada do seu prepotente personagem, acrescentando mais humor ao filme.

Sob outro aspecto, a fotografia com tons fortes insere um colorido próprio de uma abordagem nostálgica. Além da paisagem, o cabelo vermelho de Maureen O’Hara se destaca logo em sua primeira aparição, tanto para o público como para o protagonista Sean Thornton. Assim, o recém-chegado imediatamente se apaixona pela moça que se destaca no campo enquanto toca um bando de ovelhas. Merecidamente, por esse trabalho, o diretor de fotografia Winton C. Hoch ganhou sua terceira estatueta do Oscar. Seus prêmios anteriores foram por Legião Invencível (1949), também com direção de John Ford, e por Joana D’Arc (1948), na versão dirigida por Victor Fleming com Ingrid Bergman no papel título.

Deliciosa comédia romântica

Aliás, por falar em Oscar, o próprio John Ford recebeu o prêmio por Depois do Vendaval, como melhor diretor. Ele já havia ganhado o Oscar nessa categoria por O Delator (1935), As Vinhas da Ira (1940) e Como Era Verde o Meu Vale (1941).

Enfim, Depois do Vendaval é uma deliciosa comédia romântica, com uma dose de ação na parte final, quando os dois gigantes se enfrentam. Na trama, destaca-se também a revelação surpreendente do passado do protagonista, e que explica a sua recusa em enfrentar o cunhado. Na sua primeira metade, a comédia predomina, mas isso muda após o casamento, quando surgem as desavenças entre o casal. Por fim, sua conclusão deixa uma sensação de que não há inimigos absolutos, e que tudo pode se resolver. Mesmo que seja com uma boa briga.


Depois do Vendaval (filme)
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