A interessante história de “Desaparecida” se baseia no livro de Florencia Etcheves. Na trama, a policial Pipa (Luisiana Lopilato) ainda se sente atormentada pelo desaparecimento de sua melhor amiga Cornelia. Ela sumiu há 14 anos quando as duas e mais outras amigas viajavam na Patagônia. Apesar das instruções de seu chefe, ela continua a investigar o caso, que ainda permanece sem solução.
A reunião de pistas importantes por Pipa acaba preocupando um líder de um grupo de sequestradores de mulheres para prostituição. E a proximidade de uma ligação acaba levando ao assassinato de Alina (Oriana Sabatini), outra amiga de Pipa, que estava em seu apartamento. A insistência na investigação do caso acaba levando à suspensão de Pipa. Então, ela resolve assim mesmo partir para Patagônia para tentar desvendar o desaparecimento de Cornelia.
Essa boa história trata de um tema ousado, o tráfico de mulheres para prostituição. Porém, a ousadia passa longe da realização do filme, que segue uma linha totalmente conservadora em termos de estilo. O conteúdo evita a nudez e a violência não extrapola o limite do tolerável. Apesar disso, mostra muitas cenas com mulheres sendo agredidas por homens. Parece filme feito para a TV.
A trilha sonora, que procura inserir suspense no filme, é exagerada e usada com frequência demais, perdendo o impacto com a repetição. Já os flashbacks não se diferenciam visualmente das cenas atuais. Então, acaba forçando o uso constante das cartelas para indicar o tempo passado.
Mal aproveitado
Por outro lado, a estória acaba não sendo bem aproveitada. O filme prefere seguir a linha do whodunit (enredo de mistério que o espectador precisa desvendar junto com um personagem detetive) do que do suspense. No entanto, não funciona bem como filme de detetive porque não fornece as pistas necessárias para o espectador construir sua tese sobre o paradeiro de Cornelia.
Então, a revelação chega com pouco impacto. De fato, soa mais informativo do que emocionante, ainda que seja um desfecho surpreendente. Depois, é seguida por uma sequência de explicações sobre o que aconteceu. Assim, caminha em ritmo lento, divulgando outros segredos, nem tão importantes, sobre a trama.
Aliás, a falta de emoção também é fruto da falha do filme em conseguir que o espectador se conecte com a personagem de Luisana Lopilato. Fora o trauma do desparecimento da amiga, nada mais existe para construir sua personalidade. Com isso, fica uma lacuna muito grande em relação a sua ligação com o seu chefe, o delegado de polícia. Ele alega uma suposta proximidade de pai e filha, mas que nunca entendemos.
Em suma, “Desaparecida” desperdiça uma trama interessante e não consegue emocionar.
Ficha técnica:
Desaparecida (Perdida, 2018) Argentina/Espanha 103 min. Dir: Alejandro Montiel. Rot: Jorge Maestro, Alejandro Montiel, Mili Roque Pitt. Elenco: Luisana Lopilato, Amaia Salamanca, Rafael Spregelburd, Pedro Casablanc, Oriana Sabatini, Benjamin Otero, Sara Sálamo, Arancha Martí, Mara Alberto, Carlos Alcantára, Juan Ignacio Cane, Carlos del Rio, Nicolás Furtado, Marina Garré, Marta Haller, Micaela Kastan, Laura Laprida, Mora Magnarelli, Viviana Puerta, Oriana Sabatini, Julieta Serrano, Guadalupe Grande Simonini, Maite Valero, Sol Wainer, Denise Yañez.
Disponível na Netflix