O diretor alemão Werner Herzog propõe uma contundente discussão ambiental em Deserto em Fogo. Porém, a drástica experiência que o filme desenvolve acaba num desfecho medroso.
O enredo
Laura Sommerfeld lidera uma equipe internacional de três cientistas que viaja até um país da América Latina para investigar o “The Diablo Blanco Disaster”. O objetivo é levantar dados para um relatório sobre os motivos que transformaram um gigantesco lago em um campo de sal. Porém, logo que aterrissam, os três são sequestrados por uma milícia comandada pelo CEO do consórcio responsável por esse desastre ecológico.
Depois, os sequestradores levam Laura até uma ilha no meio desse lago de sal. E a deixam lá abandonada, com duas crianças cegas e mantimentos para uma semana. Toda a parte central do filme se concentra na adaptação desses três personagens a essas condições inóspitas. O ponto de vista é todo da protagonista Laura, inclusive com narrações que revelam seus pensamentos. Dessa forma, o clima de mistério se acentua, juntamente com a tensão, pois logo os suprimentos se esgotarão.
A conclusão sem sal
Contudo, o CEO retorna com seu grupo para resgatar Laura e as crianças. E revela que a sua intenção era que a cientista enfrentasse uma vivência em condições extremas. Dessa forma, ela poderia escrever um relato passional, e não apenas um relatório científico frio e racional. Até aí, o roteiro tem consistência, mas Laura aceita tudo com demasiada parcimônia. Assim, ao relevar o risco de morrer pelo qual acabou de enfrentar, acaba enfraquecendo o filme.
Afinal, essa parte central, é a mais interessante de Deserto em Fogo. Com certeza, o espectador se envolveu durante a luta pela sobrevivência dos três personagens abandonados. Porém, quando vemos Laura menosprezando essa experiência extrema, o público se sente enganado.
Além disso, Laura parece nem sentir raiva do seu algoz. Pelo contrário, até o convida a fugir com ela, contrariando o objetivo de sua pesquisa. Em paralelo, na parte final descobrimos que há um enorme vulcão que logo destruirá grande parte do planeta. Com tudo isso, a conclusão se afasta de uma premissa que trabalharia o arrependimento desse executivo por ter causado o desastre, e que explicaria a experiência à qual submeteu a cientista.
Aliás, mesmo na parte inicial, toda a enorme tensão do sequestro também se esvazia. Igualmente, pelas conversas amigáveis entre o CEO e Laura. Deserto em Fogo possuía potencial para ser um filme emocionante, mas tudo é desperdiçado.
Direção e elenco
O resultado é ainda mais frustrante porque o filme tem direção de Werner Herzog. Seus longas O Enigma de Kaspar Hauser (1974) e Fitzcarraldo (1982) conquistaram prêmios em Cannes. Já Encontros no Fim do Mundo (2007) concorreu ao Oscar de melhor documentário, e Meu Melhor Inimigo (1999) ganhou o prêmio do público na Mostra Internacional de São Paulo. Por tudo isso, esperava-se mais de Deserto em Fogo.
No papel de Laura, está a atriz alemã Veronica Ferres, que já tem uma extensa carreira. Talvez você se lembre dela em Hector e a Procura da Felicidade (2014) e Amor, Casamentos e Outros Desastres (2020), ou em algum outro entre mais de cem créditos da sua filmografia.
Já o estadunidense Michael Shannon, que faz o CEO no filme, esteve em Animais Noturnos (2016) e A Forma da Água (2017), entre outros.
Além destes atores, o elenco conta também com Gael García Bernal e Lawrence Krauss, nos papéis pequenos dos dois outros cientistas.
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Ficha técnica:
Deserto em Fogo (Salt and Fire) 2016, Países: Alemanha, França, México, Bolívia, EUA. 98 min. Direção: Werner Herzog. Elenco: Veronica Ferres, Michael Shannon, Gael García Bernal, Volker Michalowski, Lawrence Krauss, Anita Briem.