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Deus e o Diabo na Terra do Sol (filme)
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Deus e o Diabo na Terra do Sol

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

“Deus e o Diabo na Terra do Sol” é o filme mais acessível de Glauber Rocha. O espectador encontra nesse segundo longa metragem do diretor referências ao faroeste americano, adaptado ao sertão e cangaço nordestinos.

Manuel (Geraldo Del Rey) e sua mulher, Rosa (Yoná Magalhães), vagueiam pelo sertão, após uma desavença com o antigo patrão. O rapaz, simplório, facilmente se deixa levar por um pregador religioso e depois por um cangaceiro. O padre explora seus fiéis e usa-os – entre eles, Manuel – para praticar atos de violência. Principalmente em sua rixa com os coronéis locais, rivais nas suas ambições materialistas. Igualmente, o cangaceiro luta também contra os coronéis, mas também contra o governo, seguindo seus impulsos revolucionários.

Aliás, impulsos esses compartilhados pelo diretor do filme. Afinal, Glauber Rocha sempre foi um idealista, e escancara isso em seus filmes. Aqui, logo no início, filma o sertão do alto, uma paisagem belíssima. Mas, quando a câmera está no solo, surge na tela um close de um cavalo morto de fome e sede no deserto desse local. Moscas voam ao redor da boca do animal no chão. Ou seja, é nítida a crítica ao governo e aos poderosos coronéis que abandonam os habitantes dessas terras.

Violência

Glauber Rocha não perdoa os falsos missionários que usam a religião para explorar o povo desesperançado do Nordeste. Fixando sua base no alto da escadaria de Monte Santo – uma construção belíssima, que realmente existe – o pregador consegue convencer os fieis a subirem os degraus de pedra ajoelhados. Abusa da violência, utilizando até seu cajado em forma de cruz como arma. Da mesma forma, violento também é o cangaceiro, e o diretor aproxima seu discurso ao do pregador.

O estilo do diretor revela uma ousadia maior do que vimos em “Barravento” (1962), seu filme de estreia. A câmera se movimenta bastante, é inquieta. Na sequência com os fieis do pregador, ela passeia pelos rostos das pessoas que o seguem e uma imagem de ovelhas indica a montagem ideológica inaugurada pelo cinema soviético, comparando os seguidores a esses animais tidos como subservientes. Além disso, Glauber Rocha coloca o espectador na posição dos fiéis, com a câmera no mesmo nível daqueles que estão ajoelhados, acompanhando a movimentação.

Depois, na cena mais chocante do filme, que envolve um sacrifício humano, a câmera filma em plongée a imagem de Manuel ensanguentado com a vítima no colo. Cortes rápidos, jump cuts, o uso da câmera participativa (falando diretamente ao público), se alinham aos sussurros sinistros que acompanham a cena. O uso do som, aliás, merece menção também no barulho da pregação nas cenas com o missionário, e no deslocamento do diálogo quando ele bate em Manuel.

Com isso, Glauber Rocha alcança em “Deus e o Diabo na Terra do Sol” um público amplo. Aqui, não há a restrição para o hermetismo que restringiria a aceitação dos seus filmes pelo chamado espectador médio. Por isso, ainda hoje, serve como porta de entrada para a filmografia de um dos mais respeitados diretores brasileiros.


Deus e o Diabo na Terra do Sol (filme)
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