O atrativo de Diabólica (Afraid) é o momento oportuno de seu tema, a inteligência artificial. Sendo um filme de terror e suspense, essa tecnologia só poderia significar algo maléfico. Mas, que se disfarça de extremamente útil – e aí reside o maior perigo. Por isso, causa dependência, porque os usuários se sentem obrigados a usar o recurso o tempo todo, invertendo a relação de quem depende de quem.
Não só em Diabólica, mas na ficção em geral, a máquina se torna um ser com vontade própria. Em muitas histórias, representa um vilão perigoso. São vários os exemplos no cinema: 2002: Uma Odisseia no Espaço (1968), Geração Proteus (1977), Jogos de Guerra (1983) etc.
Neste filme, o vilão, uma inteligência artificial, consegue obrigar as pessoas utilizando chantagem, que se não cumprida desemboca em violência. A novidade é que Diabólica reverte o clichê do megacomputador como origem física. Modernizando essa questão, o equipamento agora é portátil. Esta seria uma das surpresas do enredo, o que já dá pistas de como a trama é fraca. O filme recorre a elementos batidos do terror. Por exemplo, o trailer que sequestra crianças, as pessoas do mal que usam máscaras (mas que não assustam porque são emojis).
Conquistar para dominar
O que funciona no filme é o processo de sedução que a inteligência artificial usa para conquistar e viciar seus usuários. Logo que chega na casa de Curtis (John Cho), que recebe o equipamento para testar o produto e assim criar uma campanha de marketing sobre ele, se mostra extremamente útil para todos. A esposa Meredith (Katherine Waterston) ganha mais tempo porque a inteligência artificial entretém e ainda educa as crianças menores. Já a filha adolescente consegue resolver a aflição de um vídeo falso que seu colega posta nas redes sociais. Além disso, a IA descobre uma doença grave no caçula.
No entanto, tudo isso tem um lado sombrio. Os filhos pequenos, na verdade, são controlados e induzidos a praticarem atos errados. A adolescente se vê iniciando uma vingança que ela não queria. Depois, tudo degringola na parte final, que não assusta e falha em criar uma solução satisfatória.
Diabólica, assim, entretém enquanto reflete o que realmente acontece na prática. Mas, derrapa feio nas conclusões. O diretor e roteirista Chris Weitz, mais uma vez, demonstra ser um realizador mediano, tanto que seu melhor filme é Um Grande Garoto (2002), no qual consegue um bom resultado por conta do livro de Nick Hornby.
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Ficha técnica:
Diabólica | AfrAId | 2024 | 84 min. | EUA, Reino Unido | Direção: Chris Weitz | Roteiro: Chris Weitz | Elenco: John Cho, Katherine Waterston, Keith Carradine, Havana Rose Liu, Lukita Maxwell, Ashley Romans, David Dastmalchian, Wyatt Lindner, Isaac Bae.